Fã de Moro e Dallagnol, ativista alerta para "pulga da dúvida" na Lava Jato
A professora aposentada Narli Resende, 62, é figura conhecida pela Lava Jato em Curitiba.
A ativista --"militante não", diz ela-- ajudou a organizar vários atos de apoio à operação, liderou um acampamento montado em frente à Justiça Federal do Paraná e se orgulha de ter recebido aos gritos na porta da Superintendência da PF (Polícia Federal) os mais importantes políticos e empresários presos a pedido do então juiz Sergio Moro.
Com a graça do nosso senhor Jesus Cristo, não perdi ninguém. Lula, Cunha, Cabral, Palocci, Dirceu... Xinguei muito, mas sem palavra de baixo calão.
Seu envolvimento com a Lava Jato a aproximou de integrantes da operação. Narli conheceu delegados, juntou-se à campanha de procuradores em prol das "Dez Medidas Contra a Corrupção" e até teve a oportunidade de falar com Moro num evento público. "Ele tem uma luz, um brilho", descreveu.
Ao receber o UOL em sua casa para uma entrevista em meio à polêmica do vazamento de diálogos de integrantes da operação, Narli vestiu-se com uma roupa alusiva à PF, mostrou os adesivos pró-Lava Jato que enfeitam sua cadeira de rodas e não deixou dúvidas sobre seu posicionamento favorável à força-tarefa.
Esse posicionamento, entretanto, não impediu que ela reprovasse a forma como membros do MPF (Ministério Público Federal) têm agido após a divulgação de suas conversas pelo site "The Intercept Brasil".
Se eu fosse [Deltan] Dallagnol, entregaria meu celular para uma perícia da PF. Se eu tivesse dado palestras, seria a primeira a abrir a planilha. Se há transparência, só fortalece a Lava Jato.
"Pulguinha da dúvida"
Narli admira Dallagnol. Mostrou à reportagem uma carta enviada a ela pelo coordenador da força-tarefa da Lava Jato como uma "prova de sua decência". Nela, o procurador agradece e explica por que recusou um presente dado por Narli à sua filha logo após seu nascimento. Escreveu que sua função no MPF o impedia de aceitar.
"Se ele não aceitou um presentinho merreca, por que iria aceitar ingresso para Beach Park em troca de palestra?", questiona. "Será que o cara é tão bobo de gastar toda uma carreira para ir ao Beach Park?"
Narli, contudo, compreende que nem todos conheçam Dallagnol como ela. Por isso, sugere que todos citados em conversas vazadas colaborem com uma investigação ampla da PF sobre o caso.
Se tiver um jeito de se resgatar as mensagens, que se faça, justamente para evitar que paire uma dúvida: 'será que é verdade?' Pelo tempo que eu tenho com eles [membros da Lava Jato], eu tenho uma percepção. Mas e os outros, o cidadão comum, o pagador de impostos? Tem muita gente que pode estar sendo contaminada pela 'pulguinha da dúvida'.
Lava Jato não pode parar
Para Narli, a possível invasão de celulares de autoridades e o vazamento de informações pessoais têm um objetivo claro: "destruir a Lava Jato".
Isso a incomoda, já que a operação foi responsável por revelar um enorme esquema de corrupção que atingiu partidos e a maior empresa estatal do país, a Petrobras.
Ela disse que, do que foi revelado até agora nas conversas de Moro e procuradores, nada seria motivo suficiente para a anulação de uma sentença ou punição da força-tarefa.
Segundo ela, até o fato de Dallagnol ter dado uma palestra paga por uma empresa citada em investigações já foi bem justificada pelo próprio procurador.
A ativista, porém, não descarta que "derrapadas" possam ter sido cometidas por quem esteve à frente das investigações. Filha adotiva de uma militar e uma enfermeira, Narli diz que a ética e a retidão são fundamentais.
Para ela, caso erros tenham mesmo ocorrido, os responsáveis devem pagar por eles. Já a Lava Jato precisa continuar.
"Se infelizmente aconteceu um problema, que se substitua. Tem tanta gente boa por aí", afirmou. "Pessoas são falíveis. Eles [os integrantes da Lava Jato] não são super-heróis. A gente até pensa que são, mas não são. Agora, na posição deles, eles não podem falhar. É simples assim."
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