Cartes e Messer foram sócios em fazenda investigada por tráfico no Paraguai
Resumo da notícia
- Em 2000, avião com cocaína e maconha foi apreendido em fazenda
- Horacio Cartes era sócio de empresa dona da propriedade na fronteira
- Doleiro Dario Messer passou a integrar a empresa anos depois
- Cartes foi presidente do Paraguai e não esconde amizade com Messer
O senador e ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes, e o doleiro brasileiro Dario Messer foram sócios de uma empresa de investimentos proprietária de uma fazenda paraguaia já vinculada ao tráfico de drogas. Os dois têm ligação com a companhia Tournon, que por sua vez era dona de uma propriedade rural na qual um avião com cocaína e maconha foi apreendido em 2000.
Na época da apreensão da aeronave, jornais paraguaios noticiaram a participação societária de Cartes na Tournon. Anos depois, segundo investigações, Messer também passou a ser sócio da companhia.
Cartes e Messer são hoje investigados pela Operação Lava Jato do Rio de Janeiro.
Segundo investigadores, Messer organizou uma rede de lavagem de dinheiro de corrupção. Já Cartes, de acordo com investigações, ajudou Messer a se esconder no Paraguai enquanto ele estava sendo procurado pela Justiça brasileira.
Durante o tempo em que esteve foragido, Messer também contou com a colaboração de brasileiros investigados por tráfico de drogas e contrabando. Por conta disso, o MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio de Janeiro) e a PF (Polícia Federal) estão apurando a possível ligação do doleiro com esse tipo de crime.
Negócios na fronteira
Horacio Cartes, o qual considera Messer "um irmão de alma", já foi citado em relatórios da DEA (agência norte-americana de combate ao narcotráfico) por supostas ligações com a lavagem de dinheiro do tráfico. Em 2000, a polícia paraguaia apreendeu drogas numa fazenda da qual Cartes era acionista.
A fazenda em questão é a Nueva Esperanza, em Capitán Bado, cidade paraguaia que faz fronteira com o Brasil. Ainda naquela época, Cartes foi envolvido no caso pois ele era acionista da Tournon, empresa proprietária do imóvel.
Em 2016, Messer, chamado por integrantes da Lava Jato de "doleiro dos doleiros" apresentou ao BNF (Banco Nacional de Fomento) do Paraguai uma declaração informando ter ações da Tournon. O documento foi obtido pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) aberta no Congresso Paraguaio para investigar Messer.
Procurada pelo UOL, a defesa de Messer negou qualquer ligação dele com o tráfico. "A defesa [...] repudia com veemência qualquer vinculação que faça com seu nome ao tráfico de drogas. Quanto as demais acusações que pesam contra Dario, a defesa se manifestará em momento oportuno durante o processo comprovando sua inocência, a semelhança do que ocorreu em processos anteriores", declarou o advogado Atila Machado.
Os advogados de Cartes também foram procurados. Preferiram não se manifestar.
20 kg de cocaína e 343 kg de maconha
A apreensão de drogas na fazenda Nueva Esperanza ocorreu em 1º de março de 2000. Naquele dia, policiais paraguaios encontraram no imóvel um avião abandonado.
A aeronave de pequeno porte tinha matrícula brasileira. Dentro dela, estavam 20 kg de cocaína e 343 kg de maconha.
Os jornais paraguaios da época noticiaram o fato. Falaram da ligação da fazenda com a empresa Tournon e citaram Horacio Cartes, que iniciava sua carreira política.
Investigadores paraguaios chegaram a dizer que droga poderia ser do traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar, que naquela época estava foragido.
Sociedade Messer-Cartes
Quando a apreensão ocorreu, Messer e Cartes já eram sócios há tempos em negócios envolvendo fazendas. A relação dos dois nesse ramo vem desde a década de 1990 e foi confirmada pelo próprio filho do doleiro, Dan Messer, em delação premiada que ele fechou com o MPF-RJ.
Dan Messer, entretanto, não especificou qual fazenda o pai e Cartes foram sócios em seu depoimento ao Ministério Público.
Tournon no Uruguai, Paraguai e Panamá
A Tournon foi aberta no Uruguai em 1991. Em 1996, uma sucursal da companhia foi aberta no Paraguai. Seu administrador era Eduardo Campos, atual presidente do Banco Basa.
Campos chegou a depor na CPI sobre Messer no Paraguai e falou sobre a Tournon. Confirmou que a empresa sempre investiu em fazendas no Paraguai. Negou que o doleiro tivesse participação na companhia
Messer apresentou ao BNF documentos sobre sua participação na Tournon do Panamá, fundada em 2009.
Segundo Campos, apesar de terem os mesmos nomes, a Tournon do Paraguai e do Uruguai não têm relação com a Tournon do Panamá.
No Brasil, entretanto, investigações indicam que a Tournon paraguaia e uruguaia estão ligadas a Messer desde meados do ano 2000. Em 2008, a Tournon do Uruguai já era presidida pelo advogado uruguaio Óscar Algorta, ligado a Messer.
Algorta foi mencionado em delações como o responsável pela criação de empresas de fachada para viabilizar transações de lavagem de dinheiro realizadas por Messer.
A defesa de Messer não se pronunciou sobre a participação do doleiro nas companhias.
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