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Operação Lava Jato

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Lava Jato: Propina da OAS a Vital do Rêgo foi negociada em 'encontros ocultos'

Ex-senador e atual ministro do TCU teria recebido R$ 3 milhões de Leonardo Pinheiro, da OAS - Geraldo Magela/Agência Senado
Ex-senador e atual ministro do TCU teria recebido R$ 3 milhões de Leonardo Pinheiro, da OAS Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado

Rayssa Motta, Pepita Ortega e Fausto Macedo

São Paulo

25/08/2020 15h10Atualizada em 25/08/2020 16h05

O ex-presidente da OAS, Leonardo Pinheiro, teria repassado R$ 3 milhões ao ex-senador e atual ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), Vital do Rêgo Filho (MDB), em troca da obstrução dos trabalhos da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da Petrobras. A CPMI foi presidida pelo emedebista e jamais convocou executivos de empreiteiras posteriormente denunciadas na Operação Lava Jato.

Para a força-tarefa, foi arquitetada uma "blindagem" das construtoras em troca de propinas negociadas entre abril e dezembro de 2014. No mesmo ano, a Lava Jato iniciava a primeira fase dos trabalhos que, desde então, têm revelado camadas de esquemas de corrupção montados para desviar recursos da estatal e de suas subsidiárias.

Os procuradores deflagraram hoje a 73ª fase da operação, batizada de "Ombro a Ombro", para cumprir mandados de busca e apreensão em Brasília (DF), João Pessoa, Cabedelo e Campina Grande (PB). Em paralelo, a força-tarefa apresentou denúncia contra um grupo de dez pessoas, incluindo o próprio ex-senador, emissários supostamente enviados por ele para receber pagamentos da OAS e empresários usados pela construtora como intermediários dos repasses.

No documento de 64 páginas, os procuradores detalharam o esquema. De acordo com a Lava Jato, foram pelo menos oito encontros, fora das dependências do Congresso Nacional, "sem registros e às escondidas", para selar os acordos de corrupção e discutir propostas de obstrução dos trabalhos da CPMI. Entre elas, a ausência de convocação dos empresários para prestarem depoimento e a elaboração do relatório final sem referência às empreiteiras e seus executivos.

"Encontros ocultos comprovados por mensagens de texto, registros de ligações e dados de georreferenciamento", diz um trecho da denúncia.

Segundo a Lava Jato, em uma das reuniões o ex-senador teria chegado a pedir que Léo Pinheiro intermediasse o contato com executivos da Camargo Corrêa, Odebrehct, Engevix, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, UTC e Toyo Setal com o intuito de arrecadar R$ 5 milhões de cada uma dessas empreiteiras.

Ao fim das negociações para alinhar os pagamentos da OAS, foram combinadas estratégias para repassar o dinheiro e ocultar a origem dos pagamentos. Foram estabelecidas duas frentes: a primeira, através de contratos superfaturados ou falsos da empreiteira com a empresa Câmara & Vasconcelos, viabilizou o pagamento de R$ 2 milhões; a segunda usou a construtora Planície para emitir notas fiscais frias que justificassem o repasse de R$ 1 milhão.

No primeiro esquema, os pagamentos em espécie foram entregues em um restaurante no Shopping Center Recife, no aeroclube de João Pessoa, em um segundo restaurante na BR-101, entre as cidades de Goiana, em Pernambuco, e João Pessoa, na Paraíba, e na BR-232, entre os municípios pernambucanos de Gravatá e Bezerros.

No segundo, a OAS usou como suporte contrato falso para efetuar as transferências bancárias para a Construtora Planície que, na sequência, repassou o dinheiro a uma casa lotérica para posterior benefício de Vital do Rêgo.

O ministro e outros cinco denunciados tiveram R$ 4 milhões bloqueados pela juíza Gabriela Hardt, da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, a pedido da Lava Jato.

Com a palavra, o ministro Vital do Rêgo Filho

O Ministro Vital do Rêgo foi surpreendido na manhã de hoje (25) com a notícia de que procuradores da Força-Tarefa de Curitiba apresentaram denúncia nos autos de inquérito judicial que tramita há quase 5 anos e que dois procuradores-gerais da República — Rodrigo Janot e Raquel Dodge — não vislumbraram elementos para formalizar o pedido de ação penal.

Causa estranheza e indignação o fato de que a denúncia nasceu de um inquérito, aberto sem autorização do STF, Corte esta que ainda examina recurso contra a remessa da investigação para Curitiba/PR, em uma clara usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal.

Com a palavra, os denunciados

Até a publicação desta matéria, a reportagem não havia obtido contato com os denunciados. O espaço permanece aberto a manifestações.

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