Polícia mira milícia de Orlando Curicica; PM ligado ao caso Marielle é alvo
A Polícia Civil do Rio cumpre hoje mandados contra 21 suspeitos de integrarem a milícia de Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica. Entre eles, está o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, conhecido como Ferreirinha, alvo de mandado de prisão preventiva (por período indeterminado). Eles foram denunciados à Justiça pelo Ministério Público do Rio por organização criminosa.
Ferreirinha é suspeito de prestar um falso testemunho com objetivo de obstruir a investigação do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes. Segundo a Polícia Civil, a ação desta sexta-feira é referente a dois inquéritos, sendo que um deles teve origem nas investigações do duplo assassinato.
A Justiça Estadual do Rio expediu mandado de prisão contra o policial militar no âmbito da Operação "Entourage", realizada pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) em conjunto com a Polícia Civil. Curicica está preso desde 2017.
Daniel Rosa, chefe da Divisão de Homicídios, informou na manhã de hoje que o depoimento de Ferreirinha à Polícia Civil, prestado à época que o suspeito procurou a Polícia Federal no ano passado, foi usado em outras investigações. "Os elementos trazidos por ele [Ferreirinha] ajudaram dezenas de investigações. Foram revelados fatos que contribuíram com diversas investigações, o Orlando Curicica é alvo de mais de dez inquéritos por homicídios nessa delegacia", disse Rosa.
Até por volta das 12h, já haviam sido cumpridos 17 mandados de prisão.
Ferreirinha se apresentou a agentes da DH (Delegacia de Homicídios da Capital) no final da manhã de hoje.
Entre os presos, está Eduardo Almeida Nunes de Siqueira, 38. Ele clona veículos roubados e os repassa. Siqueira é suspeito de ter clonado o carro usado nos assassinatos de Marielle e Anderson.
Também foram detidos:
- PM Ricardo Bezerra dos Santos, Ricardinho, lotado no 3º BPM (Méier): chefe do Terreirão, no Recreio dos Bandeirantes
- PM Leandro Marques da Silva, Mingau, lotado no 14º BPM (Bangu): homem de confiança de Orlando e considerado número dois da milícia
- Rafael Carvalho Guimarães, Rafael da Merck: clonador de veículos
- Fábio Conceição da Silva, Tibinha: atua na Boiúna e se reporta diretamente a Orlando
- Elton Pereira da Costa, Peppa: atua no contrabando de cigarro
- Sandro Alves Martins, Sandro Negão: clonador de veículos
Policiais e bombeiros envolvidos
A Promotoria também aponta que o grupo de Curicica "conta com a colaboração de funcionários públicos, mais especificamente policiais e bombeiros militares da ativa, que se aproveitam desta condição para práticas criminosas".
Outros suspeitos de integrarem a milícia também são alvos de mandados de prisão. Além de Ferreirinha, outros três PMs e um bombeiro estão na mira da polícia.
A Justiça ainda expediu mandados de busca e apreensão que são cumpridos em batalhões da PM e dos Bombeiros, e em celas de presídios onde alguns dos suspeitos estão detidos.
A milícia de Orlando Curicica atua com extrema violência, cometendo execução de testemunhas e tentativas de homicídio de autoridades responsáveis pelas investigações, diz a Polícia Civil. "Os membros dessa quadrilha fazem imperar a 'lei do silêncio' entre os moradores da localidade em que exercem o controle criminoso".
Os investigadores dizem ter comprovado "que a organização criminosa conta com grande poderio armado, aterrorizando e impondo uma rotina de intimidação a moradores e eventuais testemunhas".
"Monopólio"
Segundo a Polícia Civil, "a atividade dessa milícia visa a criar monopólio das atividades econômicas de forma clandestina da área para subjugar a população local, valendo-se de atividades ilícitas".
Entre os crimes cometidos pelos investigados, de acordo com o MP, estão:
- extorsão a moradores, comerciantes e prestadores de serviços, em troca da oferta de segurança em Jacarepaguá e no Recreio dos Bandeirantes;
- invasões de imóveis para futuras revendas;
- grilagem de terras;
- falsidade documental;
- comercialização de sinais clandestinos de internet, televisão a cabo e do comércio de gás e água;
- venda de munições e armas de fogo, cigarros falsificados, contrabando, clonagem e receptação de veículos;
- corrupção
Ligação com caso Marielle
Ferreirinha foi alvo de mandado de busca e apreensão cumprido pela PF (Polícia Federal) no último dia 21 de fevereiro dentro da investigação sobre a obstrução do caso Marielle. Em seu relatório final, a PF concluiu que o PM foi uma testemunha plantada com o objetivo de impedir o esclarecimento do duplo assassinato.
Em seu depoimento, Ferrerinha apontou o vereador Marcello Sicilliano (PHS-RJ) e Curicica como mandantes do assassinato da vereadora filiada ao PSOL. Ele afirma ter testemunhado reuniões em que ambos planejaram o atentado. Marielle Franco estaria atrapalhando negócios ilegais de Sicilliano. Após a divulgação do depoimento do PM, Curicica e Siciliano negaram a autoria do crime. Hoje, após a operação, o UOL revelou que Ferreirinha mentiu sobre Curicica.
Depois de incriminar Curirica, o PM obteve o controle do serviço ilegal de TV a cabo prestado pela milícia ao conjunto habitacional Merck. Aliado a Ferreirinha, o ex-policial civil Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho, passou a controlar a região de Curicica, onde explora um esquema ilegal de máquinas caça-níqueis, segundo a Polícia Federal.
Curicica, que estava preso no Rio, foi transferido para o presídio federal de Mossoró (RN). Lá, ele prestou depoimento ao MPF (Ministério Público Federal) no qual afirmou que a Polícia Civil do Rio tentou lhe convencer a assumir a morte de Marielle e revelou um suposto esquema de corrupção na DH que barraria investigações sobre homicídios ligados ao jogo do bicho e às milícias.
O depoimento de Curicica foi estopim para que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinasse a entrada da PF no caso.
Em contatos com a reportagem durante o mês de abril, a advogada de Ferreirinha, Camila Nogueira, afirmou que seu cliente disse a verdade. Os dois foram indiciados pela PF por obstrução à Justiça.
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