Vídeo flagra crime que descartou envolvimento de suspeito no caso Marielle
Imagens do circuito de segurança do Outback da Avenida das Américas, na Barra, zona oeste do Rio, registraram o assassinato de Marcelo Diotti da Mata, morto a tiros quando saía de carro do estacionamento do restaurante em 14 de março de 2018, mesmo dia em que Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados. O vídeo, obtido pelo UOL, ajudou a Polícia Civil a desvendar a autoria do crime.
Leonardo Corrêa da Silva, conhecido como Mad, já apontado como suspeito de envolvimento na morte da vereadora, foi preso hoje de manhã, acusado de ser um dos assassinos. Com isso, a Polícia Civil do Rio descartou a suspeita de envolvimento dele no assassinato de Marielle.
Os investigadores também capturaram Leandro Corrêa da Silva, o Tonhão, irmão de Mad. Os ex-policiais militares João Luiz da Silva, o Gago, e Anderson de Souza Oliveira, conhecido como Mugão, estão foragidos. Os suspeitos são acusados de integrar o Escritório do Crime, milícia da zona oeste responsável por crimes por encomenda. O grupo cobrava de R$ 100 mil a R$ 1,5 milhão por assassinato, diz a polícia.
O vídeo mostra o momento em que os criminosos disparam, causando pânico entre as pessoas que circulavam pelo estacionamento do Outback. Diotti estava com a esposa, a funkeira Samantha Miranda, e foi morto quando saía do restaurante.
A imagem mostra um carro, estacionado, saindo em marcha ré. Em seguida, o veículo chega a rodar por poucos metros à frente, mas para bruscamente. É possível ver a reação das pessoas no local, que saem correndo. Uma garota, que estava no carona, deixa o carro. Em seguida, a motorista salta pelo lado direito, caindo de joelhos no chão.
Cerca de 30 segundos depois, é possível ver os criminosos deixando o local em um Doblò verde, acima. Imagens de outras duas câmeras do restaurante mostram o momento em que os criminosos deixam o local, escoltados por outro veículo, que dava cobertura à ação.
Com isso, foi possível esclarecer que eles [Mad e Tonhão] não participaram do homicídio da vereadora Marielle. Momentos antes da morte dela, eles estavam matando a vítima. Essas prisões foram importantes porque esclareceram esses dois homicídios, mas também tiraram de circulação criminosos que matavam por dinheiro
Daniel Rosa, delegado da Delegacia de Homicídios da Capital
Ação para prender membros do Escritório do Crime
Os suspeitos foram alvos de mandados de prisão e busca e apreensão na Operação Tânatos, em referência ao "Deus da Morte" na mitologia grega, em desdobramento do Caso Marielle.
A ação foi realizada por força-tarefa com a participação do MP-RJ (Ministério Público do Rio) e da Corregedoria da PM-RJ (Polícia Militar do Rio) em apuração sobre o grupo de matadores de aluguel que possuía ligação com o ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, morto em operação policial na Bahia em fevereiro deste ano. Segundo a investigação, Adriano foi o mandante do assassinato de Diotti.
O grupo também é suspeito de envolvimento no assassinato do PM reformado Anderson Cláudio da Silva, morto a tiros em abril de 2018 dentro do próprio carro no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio. De acordo com a investigação, os matadores de aluguel já haviam tentado assassinar Anderson em janeiro daquele ano, em Bangu, também na zona oeste.
Na ocasião, o PM Natalino dos Santos Rodrigues se feriu. Anderson não foi atingido pelos disparos. Segundo a investigação, o grupo passou a monitorá-lo após o ataque. O UOL não localizou os advogados de Mad e Tonhão.
O áudio que "incriminou" Mad em Caso Marielle
Ele chegou a ser apontado como suspeito de envolvimento na morte de Marielle após o rastreamento de uma conversa telefônica entre o vereador Marcelo Sicilliano (sem partido) e o miliciano Jorge Alberto Moreth, o Beto Bomba, apontado como um dos chefes da milícia de Rio das Pedras, zona oeste do Rio.
Em outubro de 2019, o UOL teve acesso ao conteúdo do diálogo, que estava no celular do político apreendido em operação policial. No diálogo, Beto Bomba acusa Mad de ser um dos assassinos da vereadora. O registro faz parte de denúncia assinada pela ex-procuradora Raquel Dodge, enquanto ela ainda estava à frente da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Os moleques foram lá, montaram uma cabrazinha, fizeram o trabalho de casa, tudo bonitinho, ba-ba-ba, escoltaram, esperaram, papa-pa, pa-pa-pa pum. Foram lá e tacaram fogo nela [Marielle]
Beto Bomba, em áudio
Meses depois do assassinato de Marielle e Anderson, ainda em 2018, Mad prestou depoimento à DH da Capital e negou envolvimento nas mortes.
* Colaborou Flávio Costa
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