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O que a Síria tem a ver com o conflito no Iraque? Entenda

Do UOL, em São Paulo

30/06/2014 06h00

Jatos sírios bombardearam na última semana áreas no leste do Iraque controladas pelos rebeldes do EIIL, sigla em inglês para Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Os ataques sírios na região têm sido intensificados à medida que a ramificação iraquiana do EIIL passou a controlar também cidades estratégicas sírias próximas à sua fronteira. Ao mesmo tempo, no leste da Síria, rebeldes assumiram o controle de três cidades adjacentes ao território que a facção tomou no Iraque.

Mapa do Iraque e da Síria - Arte UOL - Arte UOL
Iraque e Síria são vizinhos e 'compartilham' rebeldes
Imagem: Arte UOL

Os países são vizinhos na histórica e conturbada região do Oriente Médio, com uma extensão de 605 km na fronteira entre ambos. A população do Iraque é de maioria xiita, enquanto que a população da Síria é de maioria sunita. Em 1982, a Síria rompeu relações diplomáticas com o Iraque, após Hafez al-Assad acusar os iraquianos de incitarem revoltas protagonizadas pela Irmandade Muçulmana no país. Além disso, os sírios foram a única nação árabe a apoiar os iranianos na Guerra Irã-Iraque (1980-1988). Estas relações só foram restabelecidas em 2006.

Acompanhe abaixo como os conflitos sírio e iraquiano estão ligados:

Qual o objetivo do EIIL?
O EIIL é composto por uma maioria de militantes sunitas que desejam criar um Estado islâmico entre as fronteiras do Iraque e Síria.

Nascido no Iraque, o grupo inicialmente era chamado de Estado Islâmico do Iraque, um braço do grupo terrorista Al Qaeda. Depois de ser solto de uma prisão norte-americana na cidade iraquiana de Bucca, o líder do grupo, Abu Bakr al Baghdadi, realocou a facção na Síria. Foi então que passaram a se chamar Estado Islâmico do Iraque e Síria.

Nas cidades sírias que foram tomadas recentemente, o grupo impôs a sharia, lei islâmica. Com isso, há a obrigação de as mulheres andarem cobertas, proibição à música e escolas separadas para estudantes de sexos diferentes. Em um dos ataques, o EIIL sequestrou 145 alunos curdos no norte da Síria, que foram forçados a terem aulas sobre a doutrina islâmica radical.

Por que a Síria bombardeia só agora o Iraque?

Os bombardeios sírios são uma tentativa do governo de Bashar Al-Assad de tentar conter o avanço no EIIL na fronteira com o Iraque. O governo tem conhecimento de que as principais bases dos rebeldes do grupo estão na Síria, mas não respondeu ao avanço do grupo durante meses.  

Mapa do Iraque com as cidades sob poder ou ameaça de insurgentes do EIIL - Arte/UOL - Arte/UOL
Cidades iraquianas sob poder ou ameaça de insurgentes
Imagem: Arte/UOL

A existência do EIIL permitiu à Síria usar o pretexto do “combate ao terrorismo” para bombardear as regiões opositoras ao governo Assad, de acordo com grupos de ativistas, principalmente em Aleppo. Os ativistas afirmam ainda que, enquanto isso, as bases do EIIL não são bombardeadas, permitindo que o grupo se fortaleça dentro da Síria.

Com o avanço rápido do EIIL no país, a Síria teve de tomar medidas mais efetivas contra o avanço dos rebeldes. Por enquanto, o país dispõe apenas de sua força aérea, já que tropas terrestres foram retiradas da fronteira com o Iraque. O principal alvo está na cidade síria de Raqqa, onde estava a sede do EIIL.

O governo sírio nega ter bombardeado posições no Iraque, porém testemunhas nas cidades iraquianas confirmam terem avistado aviões da força aérea da Síria. Ao menos 22 pessoas morreram nos ataques.

Como os dois países lidam com o EIIL?

O governo do Iraque está se aproximando gradualmente do regime de Assad. Eles compartilham do mesmo aliado –o Irã e o Hezbollah– e dos mesmos inimigos –além do EIIL, há a Al Qaeda, Arábia Saudita e outros extremistas sunitas. O interesse dos dois países, muito mais do que a manutenção de suas fronteiras geográficas, é o controlar os sectários sunitas.

O Iraque, assim como a Síria, está usando sua Força Aérea para bombardear áreas controladas pelo EIIL. Porém, a principal dificuldade é definir os locais de combate, já que os insurgentes formam um grupo bastante fragmentado territorialmente e suas bases são movidas de local constantemente.

Sem uma Inteligência Militar eficiente, as células do EIIL vão se espalhando pelo país. Até agora, mais de 4.700 iraquianos foram mortos só neste ano, segundo a ONU.

Qual atitude foi tomada pelos Estados Unidos?

O secretário de Estado americano, John Kerry, encontrou-se nesta semana com líderes curdos no norte do Iraque como parte de seus esforços para auxiliar na criação de um novo governo mais inclusivo no país. A ação tem como objetivo evitar uma fragmentação territorial do Iraque.

23.jun.2014 - O secretário de Estado americano, John Kerry (esquerda), se reúne com o primeiro-ministro iraquiano, Nouri al Maliki, nesta segunda-feira (23) em Bagdá. O secretário de Estado viajou para o Oriente Médio para abordar principalmente a situação no Iraque, palco de uma ofensiva de insurgentes sunitas e do jihadista EIIL (Estado Islâmico do Iraque e o Levante) contra o governo de Maliki - Brendan Smialowski/AP - Brendan Smialowski/AP
Secretário de Estado americano, John Kerry (esquerda), encontra o premiê iraquiano, Nouri al Maliki
Imagem: Brendan Smialowski/AP

Na última sexta-feira (27), ciente da necessidade de ajuda da Síria no combate aos insurgentes do EIIL, Kerry pediu ajuda à oposição síria para combater os jihadistas.

O presidente dos EUA, Barack Obama, solicitou que o Congresso de seu país aprove US$ 500 milhões destinados a treinar e equipar elementos identificados da oposição armada síria “para ajudar a defender o povo sírio e estabilizar áreas sob controle da oposição".

Com esse valor, incluindo um fundo de US$ 1,5 bilhão para a estabilização dos vizinhos da Síria, os EUA pretendem consolidar posições que freiem o avanço do EIIL. (Com CNN e agências internacionais)