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Operação Lava Jato

Lava Jato mira banco da família de ex-presidente do Paraguai em esquema

Ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes - Ronen Zvulun/Reuters
Ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes Imagem: Ronen Zvulun/Reuters

Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL, em Curitiba

27/05/2019 04h01

Resumo da notícia

  • Banco paraguaio enviava remessas de dinheiro ao Banco Paulista entre 2012 e 2016
  • No período, executivos da Odebrecht "lavavam" dinheiro no Paulista, apontam delações
  • Lava Jato suspeita que dinheiro vindo do Paraguai era usado para dissimular propinas
  • Banco Amambay, da família de ex-presidente paraguaio, não é oficialmente investigado

O Banco Paulista, principal alvo da 61ª fase da operação Lava Jato, manteve negócios com o Banco Amambay, hoje Banco Basa, que pertence à família do ex-presidente paraguaio, Horacio Cartes. Entre 2012 e 2016, remessas de dinheiro vivo foram "importadas" pelo banco brasileiro da instituição paraguaia, e investigações apuram uma possível relação com o esquema de propinas desenvolvido entre a Odebrecht e o banco brasileiro.

Neste tipo de operação, um banco brasileiro compra reais que um banco estrangeiro tem em seu caixa. Esse dinheiro vivo vem ao Brasil via transportadoras de valores e é adicionado ao caixa do banco brasileiro, que pode colocá-lo no mercado nacional.

O Banco Amambay tem sua história ligada ao doleiro brasileiro Dario Messer, acusado por membros da força-tarefa de ser o "doleiro dos doleiros". Ele teve sua prisão preventiva decretada há um ano pela Justiça Federal do Rio de Janeiro. Hoje, está foragido.

Messer fundou uma casa de câmbio que depois se tornou o Banco Amambay. O ex-presidente paraguaio já declarou que considera Messer um "irmão de alma".

Banco paraguaio confirma transações

Entre 2012 e 2016, o Banco Paulista importou R$ 14 bilhões, de acordo com investigações da Lava Jato. Boa parte desse dinheiro veio do Banco Amanbay, que confirma os negócios com o Banco Paulista.

Durante esses mesmos anos, o Banco Paulista ajudou executivos ligados à Odebrecht a lavar dinheiro no Brasil, segundo a Lava Jato. Ao todo, cerca de R$ 48 milhões foram "lavados". O valor foi informado à Justiça pelos próprios executivos, em delação premiada. Investigadores suspeitam que essas operações que podem ter sido feitas de forma casada com a importação de moeda do Banco Amambay.

Segundo membros da Lava Jato, os executivos ligados à Odebrecht levavam dinheiro vivo, obtido de maneira ilegal, ao Banco Paulista. O Banco Paulista, por sua vez, simulava contratos e registrava pagamentos por serviços prestados por empresas de fachada dos executivos, que ficavam com as quantias, agora "lavadas".

O banco, contudo, não podia informar que usava o dinheiro vivo entregue pelos próprios executivos em sua sede para pagá-los. Aí entraria a importação de moeda visando a um acerto na contabilidade.

Suspeitas sobre diferenças em carregamentos

Pessoas ligadas à investigação suspeitam que o Banco Paulista importava menos recursos que declarava importar do Banco Amambay. Quando um carregamento de dinheiro chegava, ele adicionava em seu caixa o valor do carregamento e completava o valor declarado com recursos entregues ilegalmente pela Odebrecht em sua sede. Assim, o fluxo de saída e entrada de dinheiro do seu caixa era regularizado.

Suspeitas apontam ainda que essa manobra contábil era feita de forma combinada com o Banco Amambay, que enviava menos dinheiro do que declarava enviar. A diferença poderia assim ser distribuída no mercado paralelo paraguaio para que doleiros, por exemplo, pudessem dar continuidade às suas operações não declaradas de troca de dólar por real.

Nem MPF-PR (Ministério Público Federal do Paraná) nem a PF (Polícia Federal), que atuam na investigação do Banco Paulista, dão detalhes sobre o andamento das investigações. Contudo, no último dia 8, quando a 61ª fase da Lava Jato foi deflagrada, o procurador da República Roberson Pozzobon antecipou que as importações de moeda feitas pela instituição financeira brasileira estão na mira da Lava Jato.

A investigação sobre as operações de importação de moeda do Banco Paulista ocorrem também no MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio de Janeiro). Na sexta-feira (24), a pedido do órgão, a Justiça Federal do Rio decretou a prisão preventiva de Paulo Cesar Haenel Pereira Barreto, que já trabalhou para a instituição financeira e está preso desde 8 de maio em Curitiba por conta da 61ª fase da Lava Jato.

Bancos negam irregularidades

O advogado Edward Carvalho, que representa o Banco Basa, antigo Banco Amambay, afirmou ao UOL que as operações de envio de moeda ao Brasil realizadas pelo banco são legais. Carvalho confirmou que o Basa mandou recursos ao Banco Paulista. Ressaltou, entretanto, que isso foi feito seguindo todas as regras previstas no Paraguai e sob o controle do governo paraguaio e de auditorias independentes.

O advogado ainda negou qualquer participação de Dario Messer no quadro societário do banco. Lembrou que a instituição financeira não foi intimada a prestar qualquer informação a autoridades brasileiras. Não é, portanto, investigada.

O Banco Paulista também informou, em nota, que suas operações são legais e fiscalizadas. "Sobre a importação de reais em espécie, o Banco Paulista esclarece que a operação está amparada pela legislação vigente e que os valores são compatíveis com dados oficiais de transações comerciais de suas contrapartes", declarou. "O banco informa ainda que os valores passaram pela fiscalização alfandegária brasileira e foram depositados no sistema financeiro nacional."

Paulista e Amambay são grandes negociadores de moeda

De acordo com o Banco Central do Brasil, entre 2014 e 2016, o Banco Amambay foi a instituição financeira do exterior que mais enviou moeda ao Brasil. Nesses três anos, foram R$ 10,6 bilhões, o equivalente a 68% do que bancos brasileiros importaram.

O banco brasileiro, segundo o BC, importou 42% de toda a moeda enviada por bancos estrangeiros ao Brasil de 2014 a 2016.

O advogado de Dario Messer, José Augusto Marcondes de Moura Júnior, confirmou a relação de amizade entre seu cliente e a família do ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes, dona do Banco Basa. Disse também que a família de Messer fundou a Cambios Amambay, mas que ela já deixou o negócio.

Moura Júnior alegou que seu cliente é inocente. Ele disse que busca na Justiça anular seu pedido de prisão preventiva para que ele deixe de ser considerado foragido.

Procurada, a defesa de Paulo Cesar Haenel Pereira Barreto não se pronunciou.

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