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Operação Lava Jato

Após mirar Receita, Lava Jato apura se PF e MP receberam mesada de doleiro

Dario Messer já foi maior doleiro em atividade no Brasil  - Reprodução/Facebook
Dario Messer já foi maior doleiro em atividade no Brasil Imagem: Reprodução/Facebook

Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL, em Curitiba

24/10/2019 04h02

Resumo da notícia

  • Delações citam proteção da PF e MP a investigado na Lava Jato
  • Doleiro Dario Messer seria o beneficiado pelo esquema
  • Ele foi chamado a depor para esclarecer história, mas ficou calado
  • Investigação sobre o caso corre sob sigilo

A Lava Jato do Rio de Janeiro quer esclarecer as suspeitas de corrupção envolvendo órgãos públicos que integram a própria operação.

Depois de prender membros da Receita Federal, a força-tarefa voltou-se à investigação de uma suposta proteção dada pela PF (Polícia Federal) e também pelo MP (Ministério Público) a um denunciado na operação, o doleiro Dario Messer.

Ele está preso desde o final de julho e é acusado de comandar uma rede de operadores financeiros responsável pela lavagem de US$ 1,65 bilhão (cerca de R$ 6,4 bilhões) para corruptos investigados na Lava Jato.

Em busca de informações sobre o caso, o MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio de Janeiro) convocou o próprio Messer a depor na sede do órgão no último dia 8.

Mesada de R$ 200 mil

Dois operadores que já trabalharam para Messer, conhecido como o "doleiro dos doleiros", afirmaram em delação premiada feita ao próprio MPF-RJ que pagaram US$ 50 mil por mês (mais de R$ 200 mil, na cotação atual) entre 2005 e 2013 para que ele fosse protegido de operações da PF e do MP.

As delações não especificam que delegacias da PF ou órgãos do MP teriam protegido o doleiro. Também não citam casos em que a proteção ocorreu.

Segundo os delatores, os pagamentos da suposta taxa de proteção foram feitos ao advogado Antonio Figueiredo Basto, que já defendeu Messer. Basto, entretanto, nega veementemente ter recebido qualquer valor para negociar uma suposta proteção ao seu ex-cliente.

"Já entreguei espontaneamente meu sigilo fiscal, telefônico e telemático a autoridades", disse ele, a respeito da investigação. "Esclareci todos os fatos."

Em busca de informações adicionais, entretanto, o procurador da República Almir Teubl Sanches, que integra a força-tarefa da Lava Jato no Rio, chamou Messer a falar. O doleiro foi questionado se a tal taxa de proteção realmente existiu e se foi destinada a alguma autoridade pública.

Polícia investiga quem são os clientes de Dario Messer

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O depoimento de Messer foi gravado, mas seu conteúdo é sigiloso. O advogado do doleiro, Átila Machado, disse que seu cliente ficou calado enquanto ouvia as perguntas dos procuradores.

"Messer ficou em silêncio", afirmou Machado. "Isso prova também que ele não está fazendo uma delação premiada."

Procurado para dar mais informações sobre a investigação da suposta proteção, o MPF-RJ informou que ela é um "procedimento sigiloso" e que "não tem nada a comentar sobre o assunto".

Delação levou a prisão de funcionários da Receita

O procurador Sanches, que questionou Messer sobre a proteção, também participou da investigação que culminou na prisão de funcionários da Receita Federal no último dia 2.

Entre os presos, estava Marco Aurélio Canal, supervisor de programação da Receita Federal para a Lava Jato. Ele é suspeito de cobrar propinas de investigados em troca da suspensão de multas do órgão federal de arrecadação.

Canal passou a ser investigado depois que Lelis Teixeira, ex-presidente da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio), fechou um acordo de delação premiada. Ele disse ter negociado o cancelamento de uma multa à federação em troca de R$ 4 milhões em propina.

O advogado de Canal, Fernando Martins, contesta a prisão de seu cliente. Ele declarou que ela é ilegal, tem "viés exclusivamente político" e é "pautada exclusivamente em informações de 'ouvi dizer' de delatores".

Delatores embasaram operação contra Messer

Os mesmos delatores que falaram do pagamento da taxa de proteção de Messer já colaboraram com o MPF-RJ em investigações contra o doleiro. Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala, e Cláudio de Souza, o Tony, prestaram depoimento ao MPF-RJ em fevereiro de 2018.

Os depoimentos de Juca Bala e Tony foram essenciais para a deflagração da operação "Câmbio, Desligo", a maior fase da Lava Jato em todo país, em maio de 2018. Com base nas investigações dessa operação, 62 pessoas, incluindo Dario Messer, foram denunciadas por lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Messer teve sua prisão preventiva decretada quando a "Câmbio, Desligo" foi deflagrada. Ele, porém, não foi encontrado por policiais na época. Ficou foragido por mais de um ano, até ser preso em São Paulo.

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