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Caso Marielle: Bolsonaro nega envolvimento e ataca Globo e Witzel

Do UOL, em São Paulo

29/10/2019 22h10

Resumo da notícia

  • Bolsonaro se isentou de responsabilidade pelo assassinato de Marielle
  • Porteiro disse que suspeito de matar vereadora esteve no condomínio do presidente
  • Bolsonaro insinuou que Witzel, governador do RJ, teria vazado informações à imprensa
  • TV Globo, que revelou o depoimento, disse que "não fez patifaria nem canalhice"

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), respondeu hoje à reportagem da TV Globo que divulgou uma menção ao seu nome na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), do Rio de Janeiro, e do motorista dela, Anderson Gomes, ocorrido em março de 2018.

Em transmissão nas redes sociais, Bolsonaro se isentou de responsabilidade pelo crime e fez duras críticas à imprensa, sobretudo a TV Globo, pelas reportagens que envolvem não apenas ele, mas também seus familiares. Ele ainda insinuou que as informações do processo, que está sob sigilo, teriam sido vazadas pelo governador Wilson Witzel (PSC).

"O governador Witzel que se explique agora como vazou esse processo", disse Bolsonaro.

O porteiro do condomínio onde morava Bolsonaro à época disse em depoimento que alguém com a voz "do seu Jair" autorizou a entrada de um dos suspeitos da morte da vereadora no dia do crime. Bolsonaro, no entanto, neste dia estava na Câmara dos Deputados, segundo registro de presença da Casa consultado pela reportagem da Globo.

De acordo com a TV Globo, o caderno da única portaria do Vivendas da Barra foi analisado pela polícia e apontou um visitante no local na noite do crime. No mesmo condomínio, vivia o policial militar reformado Ronnie Lessa, apontado pelo Ministério Público e pela Polícia Civil como o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson. O suspeito teria anunciado ao porteiro que visitaria Bolsonaro, mas se direcionou para a casa de Lessa.

"Seus patifes da TV Globo! Seus canalhas! Não vai colar! Não tinha motivo para matar quem quer que fosse no Rio de Janeiro", bradou Bolsonaro, que isentou o porteiro. "Tenho certeza de que o porteiro não sabe o que assinou", acrescentou.

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"Estou à disposição para falar nesse processo, conversar com esse delegado sobre esse assunto, para começar a colocar em pratos limpos o que está acontecendo no meu nome. Por que estão querendo me destruir?", questionou Bolsonaro durante a transmissão desta noite.

Bolsonaro disse que não conhecia Marielle e que não tinha nenhum motivo para querer matar alguém. O presidente afirmou ainda que o porteiro pode ter assinado o depoimento sem ler.

"O que cheira isso aqui, o que parece é que ou o porteiro mentiu, ou induziram o porteiro a cometer um falso testemunho, ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu e assinou embaixo em confiança ao delegado, ou a quem que foi ouvir na portaria. Qual intenção disso tudo? A intenção é sempre a mesma. O tempo todo ficam em cima da minha vida, dos meus filhos.", disse o presidente.

"Patifaria", diz Bolsonaro

Na live de hoje, gravada por volta das 4h da manhã em Riade (Arábia Saudita), onde o presidente está como parte de sua viagem por países do Oriente Médio, Bolsonaro mostrou grande indignação com a reportagem, chegando a gritar e falar palavrões.

"Qual é a intenção da Globo fazer isso ai? Nós estamos vendo problemas ocorrendo na América do Sul. Argentina, Chile, Venezuela, Bolívia, Peru... Será que a Globo quer criar uma narrativa, ou que o povo deveria ir à rua para pedir meu afastamento? É o tempo todo isso", afirmou Bolsonaro, que aproveitou e criticou a revista Época (do Grupo Globo) por reportagem em setembro sobre a atuação de Heloísa Wolf Bolsonaro, mulher do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), como psicóloga.

"Por que, TV Globo? Por que, revista Época? Essa patifaria por parte de vocês. Deixe eu governar o Brasil. Vocês perderam. Vocês vão renovar a concessão em 2022, e o processo está limpo. Vocês estão apostando em me derrubar no primeiro ano", disse.

"Eu estou fazendo uma viagem de dez dias [pela Ásia]. E vocês, TV Globo, o tempo todo infernizam minha vida. Onde vocês querem chegar, eu sei. Essa patifaria, 24 horas?", acrescentou. Por volta das 22h30 [de Brasília], a conta do presidente no Twitter publicou uma postagem criticando "canalhas" e com uma mensagem que associa a TV Globo a um esgoto.

Acusação contra Witzel

Ainda em sua live, Bolsonaro insinuou que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, teria vazado as informações do inquérito para a TV Globo. Ele atribuiu a insinuação a uma reportagem da revista Veja. Segundo o presidente, Witzel teria interesse em atacá-lo de olho nas eleições de 2022.

"O senhor só se elegeu governador porque ficou o tempo todo colado com o [senador] Flávio Bolsonaro, meu filho. Ao chegar à presidência (sic), a primeira coisa que o senhor fez foi se tornar inimigo dele, para concorrer à presidência em 2022", disse.

"Esse inquérito do caso Marielle deixa claro que tem algo muito errado no caso desse processo. Eu gostaria muito de falar nesse processo, conversar com o delegado desse assunto, para colocar em pratos limpos o que está acontecendo com o meu nome", completou.

Em entrevista à Record TV após a live, Bolsonaro foi mais incisivo e afirmou que as informações foram vazadas à Globo por Witzel. O presidente voltou a declarar que estava em Brasília no momento da visita de Élcio Vieira ao condomínio —versão apresentada pela própria Globo.

"Segundo a reportagem, isso teria acontecido no dia 14 de março do ano passado, por volta das 17h10. A Rede Globo teve acesso ao processo, que corre em segredo de Justiça, e quem vazou isso para a televisão foi o senhor governador Witzel. Agora, nesse mesmo dia, 14 de março, eu tenho registrado no painel da Câmara as minhas digitais, à 17h41 e 19h36. Ou seja, eu não estava no Rio de Janeiro. Agora me surpreende, o porteiro, segundo relatos, dizer que nesse horário ligou para a minha casa", disse o presidente.

Globo se pronuncia

No Jornal da Globo, a âncora Renata Lo Prete leu uma nota oficial da Rede Globo rebatendo as acusações do presidente Jair Bolsonaro.

"A Globo não fez patifaria nem canalhice. Fez, como sempre, jornalismo com seriedade e responsabilidade. Revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez. Mas ressaltou, com ênfase e por apuração própria, que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília, naquele dia, com dois registros na lista de presença em votações."

"O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação."

"A Globo lamenta que o presidente revele não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão o público brasileiro. Sobre a afirmação de que, em 2022, não perseguirá a Globo, mas só renovará a sua concessão se o processo estiver, nas palavras dele, enxuto, a Globo afirma que não poderia esperar dele outra atitude. Há 54 anos, a emissora jamais deixou de cumprir as suas obrigações".

Witzel: "Fui atacado injustamente"

O governador do Rio de Janeiro divulgou um comunicado no Twitter afirmando que foi "atacado" de forma injusta e ressaltando que "não houve interferência política nas investigações" do caso Marielle.

"Lamento profundamente a manifestação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro. Ressalto que jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público e a cargo da Polícia Civil. Em meu governo, as instituições funcionam plenamente e o respeito à lei rege todas nossas ações. Não transitamos no terreno da ilegalidade, não compactuo com vazamentos à imprensa", disse.

"Não farei como fizeram comigo, prejulgar e condenar sem provas. Hoje, fui atacado injustamente. Ainda assim, defenderei, como fiz durante os anos em que exerci a Magistratura, o equilíbrio e o bom senso nas relações pessoais e institucionais. Fui eleito sob a bandeira da ética, da moralidade e do combate à corrupção. E deste caminho jamais me afastarei."

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