Topo

Operação Lava Jato

MPF: contato entre Temer e Moreira no dia da prisão pode indicar vazamento

10.abril.2017 - Michel Temer, então presidente da República, com o ex-ministro Moreira Franco - DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO
10.abril.2017 - Michel Temer, então presidente da República, com o ex-ministro Moreira Franco Imagem: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO

Bernardo Barbosa e Gabriel Sabóia

Do UOL, em São Paulo e Rio

29/03/2019 17h38Atualizada em 29/03/2019 20h59

O ex-presidente Michel Temer e o ex-ministro Moreira Franco (ambos do MDB) trocaram mensagens e tentaram se falar por telefone horas antes da operação Descontaminação, no dia 21, quando os dois foram presos. A informação foi revelada hoje pela força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro durante a explicação sobre as denúncias criminais apresentadas contra os dois emedebistas.

Os procuradores do MPF-RJ (Ministério Público Federal no Rio de Janeiro) consideram o contato como um indício de que os políticos poderiam já estar sabendo da ação da Polícia Federal.

"Os dois se falaram na madrugada do dia da prisão, 21 de março. À 1h24 do dia 21 de março, Temer pergunta se Moreira estava acordado por WhatsApp e liga para ele. Eles nunca tinham se falado naquele horário nos 83 dias anteriores que foram monitorados. À 1h40 há tentativa de telefonema de Moreira Franco para Temer, seguida da mensagem 'Tentei te ligar, você não atendeu'", disse o procurador Eduardo El Hage.

Nas duas manifestações (chamadas de cotas) que acompanham as denúncias feitas hoje contra Temer, Moreira e mais 12 pessoas, os procuradores afirmam que "não se sabe se [os dois] conseguiram falar naquela madrugada por meio de outros aparelhos celulares ou outros meios de comunicação."

Segundo o MPF-RJ, nenhum dos 27 contatos ou tentativas de contato entre Temer e Moreira no período monitorado (quase três meses) aconteceu depois das 22h -- com exceção dos registrados na madrugada anterior à operação. O monitoramento começou em 26 de dezembro de 2018, àquela época apenas nos aparelhos de Moreira Franco, já que Temer ainda era presidente.

Esse quadro revela indícios de que os dois investigados, contando com sua, ainda existente, influência na cúpula do poder estatal, possam ter tido conhecimento prévio acerca da operação que os investigava
MPF-RJ

O contato na madrugada é um dos tópicos citados pelo MPF-RJ para reforçar os fundamentos das prisões preventivas de Temer, Moreira e os outros envolvidos no caso. Eles foram soltos na segunda-feira (25), beneficiados por um habeas corpus concedido pelo desembargador Antônio Ivan Athié, do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2º Região).

Outro lado

A defesa de Michel Temer chamou a entrevista coletiva dos procuradores hoje de "show de horrores". Segundo o advogado Eduardo Carnelós, que assina nota enviada à imprensa, as acusações contra o ex-presidente se sustentam "em suposições e na débil palavra de delatores". A defesa afirma ainda que a relação entre Temer e Moreira "nada tem de ilegal ou ilegítima".

Ainda de acordo com Carnelós, as denúncias "não têm nenhum fundamento sério, e insistem em versões fantasiosas, como a de que Temer teria ingerência nos negócios realizados por empresa que nunca lhe pertenceu."

A defesa de Moreira Franco diz que a denúncia contra o ex-ministro "reproduz a versão do delator Antunes Sobrinho. Além disso, a narrativa do Ministério Público não se atem aos fatos da delação, incluindo ilações sem qualquer respaldo probatório. As imputações apresentadas serão afastadas no curso do processo."

Denúncias

A força-tarefa da Lava Jato no MPF-RJ ofereceu hoje duas denúncias contra Michel Temer (MDB) e outros investigados pelo esquema de corrupção envolvendo a Eletronuclear e as obras na usina nuclear de Angra 3.

A primeira é pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro e inclui, entre outros denunciados, Moreira Franco. Leia aqui a íntegra. Já a segunda denúncia é pelos crimes de lavagem e peculato (desvio de dinheiro ou recursos públicos em benefício próprio). Leia aqui a íntegra.

Da Presidência à prisão: veja trajetória de Michel Temer

UOL Notícias

Operação Lava Jato