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Vazamentos da Lava Jato

De 2015 a 2018: as mensagens da Lava Jato em ordem cronológica

Do UOL, em São Paulo

09/07/2019 19h35Atualizada em 10/09/2019 15h23

O site The Intercept Brasil publica desde 9 de junho conversas atribuídas ao então juiz Sergio Moro e a integrantes da Lava Jato - que dizem que alguns diálogos podem ter existido, mas não reconhecem a legitimidade de todas as mensagens - sem no entanto apontar quais teriam sido adulteradas.

Repórteres da Folha de S.Paulo que tiveram acesso ao material encontraram mensagens que enviaram a integrantes da Lava Jato dentre o conteúdo obtido pelo Intercept. O site, por sua vez, não diz quem enviou os arquivos, que teriam sido trocados por meio do Telegram - aplicativo similar ao Whatsapp.

Se confirmadas, as mensagens indicam que Moro não se ateve ao papel de julgar processos da Lava Jato quando era juiz. Ele teria influenciado os rumos da investigação, o que é proibido pela Constituição.

Veja os principais trechos publicados até agora, organizados em ordem cronológica:

13 de julho de 2015: o "Fachin é nosso"

Publicado em 5 de julho de 2019: Uma das mensagens mais antigas divulgadas até agora mostra entusiasmo de Deltan Dallagnol, chefe da Lava Jato no Paraná, após reunião com o ministro do STF Edson Fachin ("aha, uhu, o Fachin é nosso"). O material também traz relatos de um encontro entre Moro e Fausto Silva, da TV Globo, no qual o apresentador teria aconselhado os procuradores a falar de forma mais simples, para que todos entendessem.

Esta leva de diálogos também mostraram que o então juiz pediu a inclusão de provas em uma denúncia contra Zwi Skornicki, um dos maiores operadores de propina no esquema de corrupção. Revelaram ainda que Moro se mostrou contrário a um acordo de delação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ).

Segundo a revista Veja, que fez parceria com o Intercept na divulgação deste episódio, Moro também teria omitido informações solicitadas pelo ministro do STF Teori Zavascki, morto em 2017, para manter um inquérito na vara chefiada por ele em Curitiba.

21 de fevereiro de 2016: orientações de Moro à Lava Jato

Publicado em 9 de junho de 2019: A primeira reportagem publicada pelo Intercept trazia conversas indicando que Moro sugeriu a troca de ordem das fases da Lava Jato, cobrou novas operações, deu conselhos e pistas aos procuradores, além de antecipar decisões.

23 de março de 2016: apoio a Moro contra STF e "tontos" do MBL

Publicado em 23 de junho de 2019: De acordo com essas mensagens, procuradores da Lava Jato se articularam para proteger Sergio Moro e evitar que tensões entre ele e o STF paralisassem as investigações num momento crítico para a força-tarefa em 2016.

O objetivo era evitar que a divulgação de papéis encontrados pela PF na casa de um executivo da Odebrecht acirrasse confronto com o Supremo ao expor indevidamente dezenas de políticos que tinha direito a foro especial e só poderiam ser investigados com autorização da corte.

Moro reclamou da ação da polícia a Dallagnol, que prometeu apoio incondicional ao juiz: "Saiba não só que a imensa maioria da sociedade está com Vc, mas que nós faremos tudo o que for necessário para defender Vc de injustas acusações", escreveu.

Mais tarde, Moro pediu a Deltan que ajudasse a conter o grupo antipetista MBL (Movimento Brasil Livre), após um protesto em frente ao apartamento do ministro Teori Zavascki em Porto Alegre, em que militantes estenderam faixas que o chamavam de "traidor" e "pelego do PT" e pediam que deixasse "Moro trabalhar".

"Nao.sei se vcs tem algum contato mas alguns tontos daquele movimento brasil livre foram fazer protesto na frente do condominio.do ministro", digitou Moro no Telegram, no fim da noite. "Isso nao ajuda evidentemente."

22 de abril de 2016: "In Fux we Trust"

Publicado em 12 de junho de 2019: O Intercept Brasil, em parceria com o jornalista Reinaldo Azevedo, no programa "O É da Coisa", da Band News FM, apresentou mensagem em que Dallagnol relatara a Moro um encontro de 22 de abril de 2016 com o ministro do STF Luiz Fux.

O teor da conversa com o ministro do Supremo teria sido a repreensão feita a Moro pelo também ministro do STF Teori Zavaski, então relator da Lava Jato no tribunal, no episódio da divulgação de um grampeamento ilegal da conversa entre os ex-presidentes Dilma Rousseff e Lula.

Na conversa com os procuradores, Dallagnol reforça o apoio de Fux à Lava Jato. A mensagem foi encaminhada a Moro, que teria respondido: "In Fux we trust".

Outra câmera depoimento de Lula a Moro - Reprodução - Reprodução
Lula é interrogado por Moro em maio de 2017
Imagem: Reprodução

9 de setembro de 2016: dúvida sobre tríplex

Publicado em 9 de junho de 2019: Neste dia, o The Intercept publicou diálogos nos quais o procurador da República Deltan Dallagnol mostrava-se inseguro quanto às acusações contra Lula horas antes da denúncia no caso do tríplex.

"Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis? Então é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio da ligação entre Petrobras e o enriquecimento, e depois que me falaram tô com receio da história do apto? São pontos em que temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua", escreveu Dallagnol ao fazer sua última leitura da denúncia contra Lula. Nenhum colega respondeu.

13 de março de 2017: troca de procuradores em interrogatório de Lula

Publicado em 20 de junho de 2019: Procuradores acataram uma sugestão do ex-juiz Sergio Moro para o primeiro interrogatório de Lula, segundo nova leva de mensagens.

Moro escreveu para Dallagnol que a procuradora Laura Tessler era "excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem".

Segundo Reinaldo Azevedo, Deltan repassou a mensagem de Moro ao procurador Carlos Fernando dos Santos e pediu para fazerem uma "uma reunião sobre estratégia de inquirição sem mencionar ela [a procuradora]".

Laura acabou ficando fora do primeiro interrogatório de Lula, em 10 de maio daquele ano. As mensagens reveladas indicam que os procuradores teriam optado por tirar Laura e levar ao interrogatório os procuradores Roberson Pozzobon e Júlio Noronha.

Protesto em frente ao apartamento do ministro do STF Teori Zavascki, em Porto Alegre, em 2016 - Banda Loka Liberal/Divulgação - Banda Loka Liberal/Divulgação
Protesto em frente ao apartamento do ministro do STF Teori Zavascki
Imagem: Banda Loka Liberal/Divulgação

13 de abril de 2017: Moro contra investigação a FHC

Publicado em 18 de junho de 2019: Moro e Dallagnol teriam conversado sobre denúncias relativas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

As mensagens teriam sido trocadas um dia após matéria do Jornal Nacional, da TV Globo, reportar citações de FHC nas delações de executivos da Odebrecht, com pagamentos indevidos à campanha do ex-presidente em 1993 e 1997. O caso foi enviado à primeira instância da Justiça de São Paulo, sobre a qual Moro, então como juiz no Paraná, não tinha nenhuma ingerência.

Os diálogos vazados sugerem que Deltan e Moro tinham conhecimento de que os supostos crimes, caso realmente consumados por FHC, estavam prescritos. O procurador, então, fez uma suposição sobre o envio da ação para São Paulo: "Talvez para [o MPF] passar recado de imparcialidade". Moro, por sua vez, afirmou achar "questionável o envio da ação", por "melindrar alguém cujo apoio é importante".

Ainda sobre FHC, o Intercept revelou conversas entre os procuradores sobre se deveriam conduzir uma investigação conjunta contra os institutos do tucano e de Lula. A ideia, no entanto, foi descartada após a constatação dos procuradores de que uma investigação conjunta poderia favorecer o ex-presidente petista.

10 de maio de 2017: "showzinho da defesa"

Publicado em 14 de junho de 2019: Mensagens sugerem que o então juiz Sergio Moro sugeriu ao MPF (Ministério Público Federal) a publicação de uma nota contra o que chamou de "showzinho" de Lula e sua defesa após o interrogatório relativo ao caso do tríplex de Guarujá (SP), em maio de 2017.

Nas mensagens, Moro conversou com o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima sobre o interrogatório, sugerindo depois ao procurador que editasse uma nota "esclarecendo as contradições do depoimento [de Lula] com o resto das provas ou com o depoimento anterior dele", porque a defesa já teria feito o "showzinho dela".

Santos Lima também teria conversado com Dallagnol para editar a nota na qual rebateria a defesa de Lula, compartilhando a suposta orientação de Moro. A decisão de publicar a nota foi debatida entre os procuradores e os assessores, por receio de levantar questionamentos. Por fim, o comunicado foi publicado.

5 de agosto de 2017: dados sigilosos sobre Venezuela

Publicado em 7 de julho de 2019: Mensagens reveladas pelo The Intercept Brasil em parceria com a Folha de S. Paulo mostram que Moro sugeriu a Deltan que a Lava Jato fizesse algo para tornar públicas informações fornecidas pela Odebrecht sobre corrupção na Venezuela. O diálogo ocorreu em 5 de agosto de 2017, quando os dados estavam sob sigilo por ordem do STF e o país vizinho sofria com o endurecimento do regime de Nicolás Maduro.

As conversas mostram que alguns procuradores argumentaram sobre os riscos de tomar tal atitude, mas outros, como Deltan, achavam importante dar uma resposta a Maduro, mesmo que não houvesse consequências no plano jurídico.

No fim de agosto daquele ano, a visita de Luísa Ortega, procuradora-geral da Venezuela destituída por Maduro ao Brasil, animou os procuradores. Segundo a publicação, dois procuradores venezuelanos também vieram ao Brasil em segredo para trabalhar no caso.

Segundo a reportagem, as mensagens sugerem que a presença de venezuelanos no Brasil foi vista como oportunidade para o vazamento de informações da delação da Odebrecht, que de fato ocorreu. Em outubro, Ortega publicou na internet dois vídeos com trechos do depoimento de Euzenando Azevedo, ex-diretor da empreiteira na Venezuela, um dos executivos que fez delação.

28 de setembro de 2018: repercussão de possível entrevista de Lula

Publicado em 9 de junho de 2019: Os primeiros diálogos divulgados pelo site sugerem ação dos procuradores para impedir entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso na sede da PF em Curitiba, antes do 1º turno das eleições em 2018, por receio que os impactos das declarações do petista ajudassem a eleger seu candidato, Fernando Haddad.

Publicado em 9 de julho de 2019: No primeiro áudio revelado pelo Intercept, Dallagnol pediu a colegas do grupo do Telegram Filhos do Januário 3 para "não alardear" uma liminar do ministro do STF Luiz Fux, que derrubou decisão do colega Ricardo Lewandowski e cancelou, assim, entrevista de Lula à Folha antes da eleição presidencial.

O procurador também disse que é a decisão de Fux era uma "notícia boa" depois de "tantas coisas ruins".

1º de novembro de 2018: procuradores criticam Moro

Publicado em 9 de julho de 2019: Preocupados com a entrada de Moro na política - o que poderia deslegitimar a Lava Jato -, procuradores teriam criticado o então juiz.

Momentos antes da confirmação da ida de Moro ao governo Bolsonaro, a procuradora Monique Cheker escreveu em um grupo intitulado BD (todas as mensagens foram transcritas como estão no "The Intercept"):

Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados
Monique Cheker, procuradora

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado nesta matéria, os diálogos que mostram que o procurador Deltan Dallagnol tinha dúvidas em relação à denúncia do tríplex de Guarujá datam de 9 de setembro de 2016, e não de fevereiro daquele ano. A informação foi corrigida.
Diferentemente do que foi informado nesta matéria, os diálogos que mostram que os procuradores da Lava Jato tentaram barrar uma entrevista de Lula datam de 28 de setembro de 2018, e não de fevereiro de 2016. A informação foi corrigida.

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