Lava Jato teve medo de vazamento em operação antes de prender Temer
A força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro teve medo de que a operação que resultou na prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB) tivesse vazado antes da sua deflagração. Temer foi preso ontem durante a Operação Descontaminação, que apura o pagamento de propina a uma quadrilha que, segundo a Lava Jato, era comandada pelo ex-presidente há mais de 40 anos.
A reportagem do UOL apurou que integrantes da força-tarefa ligados à operação ficaram apreensivos nos últimos dois dias com a possibilidade de que ela tivesse vazado e chegado ao conhecimento de Temer.
Isso porque a PF, que tinha a incumbência de monitorar onde estava o ex-presidente, enfrentava dificuldades em localizá-lo. Apesar da apreensão, nenhum vazamento foi detectado até o momento.
A incerteza em relação à localização de Temer fez com que a Polícia Federal grampeasse oito telefones ligados a Temer. A interceptação foi autorizada pelo juiz federal Marcelo Bretas.
Desta vez não houve indício de vazamento na operação, mas outra fase da Lava Jato no Rio não foi tão blindada assim.
Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal em 2018 mostraram que doleiros presos na Operação Câmbio, Desligo já tinham conhecimento sobre o andamento da investigação e sobre o fato de ela estar entrando em sua fase final.
De acordo com os investigadores, a organização criminosa liderada por Temer praticou atos de obstrução de Justiça e utilizava métodos de "contrainteligência" que incluíam o monitoramento de policiais federais, assédio a potenciais testemunhas e até o pagamento de propina para evitar que elas colaborassem com a Justiça.
Grupo desviou R$ 1,8 bilhão, dizem procuradores
Temer é apontado pelo MPF e pelo juiz Marcelo Bretas como o líder de uma organização criminosa responsável por ter solicitado ou recebido pelo menos R$ 1,8 bilhão e que estaria em atividade há pelo menos 40 anos.
Ele foi preso em São Paulo, mas foi transferido para o Rio de Janeiro. Ele está detido na sede da Superintendência da Polícia Federal na capital fluminense.
De acordo com as investigações, Temer recebia vantagens indevidas pagas por empresários que mantinham contratos com a Eletronuclear, estatal responsável pela usina nuclear de Angra 3. O coronel João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, é apontado como o principal operador financeiro do esquema.
Segundo o MPF, Lima usava empresas das quais ele era sócio para receber vantagens indevidas que depois eram repassadas a Temer.
Advogado de defesa de Temer, Eduardo Pizarro Camelós disse que os fatos "remontam ao longínquo 1° semestre de 2014", não existe "nenhum elemento de prova comprobatório da palavra do delator" e constitui um "grave atentado ao Estado Democrático e de Direito no Brasil".
Já o advogado Maurício Silva Leite, defensor do coronel Lima, declarou estar perplexo com a prisão. "A própria Procuradoria-Geral da República manifestou-se em relação aos mesmos fatos e concluiu que não havia elementos para a prisão do meu cliente. Surpreendentemente, dois meses depois, a prisão é decretada pela 1ª instância, sem a existência de nenhum fato novo."
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