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Cerca de dez mil raposas 'urbanas' vivem em Londres

Em Londres

05/09/2013 14h52

Para alguns são uma praga ou até mesmo um risco, mas muitos apreciam o inconfundível toque selvagem que as cerca de 10 mil raposas saltitantes em parques e ruas de Londres dão à capital inglesa.

É quase impossível para os 8 milhões de habitantes do principal centro financeiro mundial não cruzar frequentemente com uma raposa. Em uma pesquisa recente, 70% dos consultados disseram ter visto um animal na semana anterior.

Seus críticos se irritam com os incômodos ocasionados por estes vizinhos de quatro patas que, à noite, revolvem a terra dos jardins, destroem sacos de lixo, deixam seus excrementos espalhados e podem transmitir doenças (embora não a raiva, erradicada no Reino Unido).

Os meios de comunicação fazem grande alarde com histórias de crianças atacadas, em alguns casos em seus berços, por estes canídeos associados na imaginação popular à astúcia e à mentira. Mas os defensores dos animais garantem que se trata de exagero, quando não, de histórias puramente inventadas.

"Tive vontade de agarrar minha carabina de ar comprimido e me livrar dela", afirmou em junho o truculento prefeito de Londres, Boris Johnson, depois que seu gato foi mordido, supostamente, por uma raposa.

"Se as pessoas quiserem se juntar e sair para caçar em Islington [bairro de Londres], vou com elas", acrescentou ao defender, em tom de brincadeira, a legalização da caça à raposa, proibida desde 2005 na Inglaterra.

A declaração avivou pela enésima vez a discussão sobre as "raposas urbanas", que segundo a Universidade de Bristol, no Oeste do país, seriam 33 mil no Reino Unido , um terço delas na capital. Outras 250 mil vivem no campo.

"É um animal que se adapta muito facilmente, que come de tudo", explicou Calie Rydings, da RSPCA, a sociedade britânica protetora dos animais.

Com um sem-fim de parques e casas com jardim, Londres é um paraíso para as raposas, que escolheram a cidade como habitat nos anos 1930, quando a zona urbana começou a invadir seu território.

A convivência com os humanos é muito boa. Segundo uma pesquisa, 86% das pessoas gostam do animal. Outro estudo contabilizou em 10% o número de londrinos que "alimentam regularmente" as raposas.

Mas, "apesar de sua densidade recorde, as raposas são a a causa de um número extremamente pequeno de problemas e a grande maioria das pessoas gosta de observá-las em seu jardim", afirma Stephen Harris, da Universidade de Bristol.

O que acontece então com esses bebês atacados que de vez em quando são notícia? Em 2010, uma mãe londrina disse ter vivido um "pesadelo acordada" após encontrar suas gêmeas de nove meses cobertas de sangue no quarto.

O último caso remonta a fevereiro, quando um bebê de quatro semanas foi encontrado com um dedo arrancado, provocadondo a ira do prefeito de Londres.

"Registramos três 'ataques' de raposas nos últimos onze anos", relativiza Trevor Williams, diretor do The Fox Project, dedicado à proteção destes mamíferos.

"O primeiro ataque acabou sendo de um cachorro. O segundo também poderia ser, segundo testemunhos dos vizinhos. E no terceiro, a história tem tantas contradições que ninguém acredita nela", enumera.

"E, embora esses ataques fossem verdade, não teriam mais peso caso fossem comparados com as 250 mil pessoas mordidas a cada ano por um cão doméstico no Reino Unido, 6.000 das quais são hospitalizadas", assegura.

Na verdade, são as raposas que estão em perigo, segundo a RSPCA. Sua expectativa de vida em ambiente urbano não supera os dois anos, contra os 14 que vivem em cativeiro, e os carros são responsáveis por 60% das mortes.

O restante se deve a doenças e às cerca de cem pessoas autorizadas a matar raposas em Londres.

No entanto, imaginar milícias patrulhando as ruas para exterminá-las é uma lenda urbana. Há três anos, um vídeo mostrando quatro homens encapuzados batendo em uma raposa com um bastão de críquete em um parque de Londres inquietou a população.

Veículos da imprensa enviaram repórteres ao local dos fatos e a RSPCA abriu uma investigação. Até que seus autores, os diretores Chris Atkins e Johnny Howorth, explicaram que se tratava de um vídeo falso, destinado a satirizar a histeria sobre o tema.