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Herbário virtual leva 420 mil fotos da flora brasileira para a internet

Manuel Pérez Bella

Do Rio de Janeiro

30/09/2013 10h54

A exuberante flora brasileira está ao alcance de todo o mundo a partir deste domingo (29) graças a um "herbário virtual" com centenas de milhares de imagens em alta resolução, que está aberto à edição para pesquisadores, no estilo wiki.

O herbário, disponível gratuitamente no site www.jbrj.gov.br, é composto por 420 mil fotografias de plantas prensadas e desidratadas, muitas delas colhidas por naturalistas europeus nos séculos 18 e 19.

A coordenadora do projeto, Rafaela Campostrini Forzza, explicou à Agência Efe que a pesquisa no herbário virtual pode contribuir para conhecer melhor a flora brasileira, fomentar sua conservação e solucionar dúvidas sobre a distribuição geográfica de cada espécie vegetal, pontos que ainda se sabe pouco por causa da falta de dados.

"Acreditamos que, ao ampliar a quantidade de dados disponíveis, vamos poder responder [à incógnita] de que espécies estão extintas e também quais estão perto da extinção, o que pode nos ajudar a tirá-las desta lista. É o que esperamos", afirmou Rafaela.

A "grande inovação" do herbário virtual, segundo Rafaela, está em permitir aos pesquisadores de todo o mundo acessar o banco de dados e a editar "online" qualquer dado que julgarem que estar errado ou incompleto, sem supervisão de moderadores, no mesmo formato das páginas colaborativas, como a Wikipedia.

A rede de colaboradores está aberta de forma gratuita a instituições de todo mundo e já conta com 500 taxonomistas inscritos, que a partir de agora podem investigar a flora e alterar a informação de qualquer espécie.

"Algumas amostras são superantigas e a identificação pode ter mudado com o tempo. Esperamos que os pesquisadores consigam identificar se há problemas", comentou.

O herbário é composto por amostras de plantas brasileiras colhidas entre os séculos 18 e 19 que se encontram nos Jardins Botânicos Reais em Kew, no Reino Unido, no Museu Nacional de História Natural de Paris, na França, além do vasto acervo do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, criado em 1890.

As mais antigas já permitiram comprovar de primeira mão a vegetação que existia em áreas agora urbanizadas, como é o caso de Copacabana, bairro carioca fundado há 121 anos.

Rafaela explicou que as amostras conservadas nos herbários europeus permitiram comprovar que em Copacabana havia uma vegetação junto ao solo chamada "restinga", aparentemente similar a de outras praias virgens hoje.

Mas só a análise futura das amostras poderá comprovar se essa vegetação era exatamente igual à de outras praias atuais, ou se tiveram alterações ou se alguma dessas plantas se extinguiu.

Os usuários comuns não poderão editar a base de dados do herbário, mas terão acesso à ferramenta completa de busca, que permite navegar por toda a flora do Brasil, incluindo a amazônica, e pelas diferentes épocas nas quais foram colhidas as amostras.

O site também possui ferramentas para auxiliar os pesquisadores, como a que permite medir a dimensão das pétalas, caule e frutos, e também uma paleta de cores para ajustar a tela e ver perfeitamente as imagens de alta resolução, que chegam até a 600 dpi.

A expectativa dos criadores do herbário virtual é expandir seu acervo até perto de um milhão de amostras em 2015, já que a base de dados incorpora cerca de mil lâminas por dia.

O herbário foi lançado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que demorou uma década em iniciar o projeto porque há dez anos o alto custo de armazenamento o tornava inviável, explicou Rafaela.