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Albânia convoca plebiscito para proibir a importação de lixo

Mimoza Dhima

Em Tirana

30/04/2013 12h19

A convocação de um plebiscito por iniciativa popular para proibir a importação de resíduos deixa a Albânia em um dilema: parar de trazer lixo do exterior e, assim, preservar seu meio ambiente; ou continuar com a emergente e lucrativa indústria da reciclagem?

A chamada "Aliança contra a Importação de Lixo" (AKIP), que agrupa associações civis, cidadãos e ativistas, recolheu as 62 mil assinaturas indispensáveis para a organização do plebiscito, marcado para dezembro.

"É a primeira vez que se escuta a voz dos cidadãos. Trata-se de uma nova prática relacionada diretamente com a vida do povo e seu futuro", afirma em declarações à Agência Efe Kozara Kati, ativista dos direitos humanos e membro fundador da AKIP.

A Albânia importa 25 tipos de resíduos recicláveis - todos eles figuram na Lista Verde da UE (União Europeia) -, dos 400 aprovados pelo governo em 2010, após uma lei autorizar a importação de lixo.

No entanto, a nefasta gestão do lixo doméstico - que transformou a Albânia em um dos países mais poluídos da Europa - e o temor de que, sob a importação de resíduos, se esconda um possível tráfico de substâncias tóxicas por parte da máfia, especialmente a italiana, são as duas principais razões apontadas pela AKIP para proibir a importação dos resíduos.

Durante o comunismo, havia na Albânia poucos veículos, a indústria estava atrasada e as poucas sacolas de plástico e garrafas de refrigerante que entravam pela fronteira mais hermética da Europa eram conservadas como raras relíquias nas estantes das casas do país.

No entanto, essa cultura deixou de existir depois que o país se abriu à economia de livre mercado, em 1991, e, junto ao crescimento do bem-estar e do consumo, aumentou também a quantidade de lixo, que invadiu ruas, pradarias, leitos de rios, encostas de morros e o litoral.

Atualmente, os albaneses produzem 852 mil toneladas de lixo por ano, das quais apenas 10% são recicladas. Somente a capital Tirana dispõe de despejo de lixo, enquanto as demais cidades o queimam de forma improvisada em campo aberto. Há povoados que nem sequer contam com contêineres públicos.

Mas o lixo, além de ser um problema de saúde pública e de contaminação, se transformou em fonte de enriquecimento para um número crescente de albaneses e estrangeiros.

Com este objetivo, chegou no ano passado, vindo do Peru, o ex-ministro das Relações Exteriores Augusto Blacker Miller para construir, junto a seus sócios italianos, a primeira grande incineradora de resíduos - no valor de 200 milhões de euros - na cidade sulina de Fier. Mas pesa sobre Miller, dono da empresa de gestão de resíduos Apollonia Investments, uma ordem de busca e captura no Peru por participar do golpe do ex-presidente Alberto Fujimori em 1992.

Além disso, dezenas de companhias italianas atuam no setor do tratamento de lixo. De acordo com especialistas, essas empresas podem esconder atividades ilegais. O maior risco é o tráfico de materiais tóxicos, que estariam entrando no país graças à falta de controle, à pobre infraestrutura, à deficiente preparação dos funcionários e à corrupção dos agentes alfandegários, embora este ponto seja negado pelas autoridades.

"Pela Albânia não passou nenhum resíduo tóxico. A importação é muito estrita e é feita apenas com a permissão do primeiro-ministro", assegura Vladimir Bezhani, diretor do Ministério do Meio Ambiente. Mas, segundo a Europol (a força policial europeia), Albânia, Romênia e Hungria são os principais destinos de resíduos tóxicos enviados da Itália e de outros países do Sul da Europa.

Se for aprovada, a cessação da importação de resíduos levará à quebra a nova indústria de reciclagem albanesa, que funciona com matéria-prima importada, já que na Albânia o lixo ainda não é separado por sua origem, sendo descartado em contêineres comuns.

"A reivindicação da AKIP é absurda. Não é essa a solução para nos proteger da máfia do lixo, e sim o aumento do controle e as medidas preventivas", avalia Vullnet Haka.

Dono de uma das maiores fábricas de reciclagem de polietileno, Haka perderá seu investimento de 15 milhões de euros caso a proibição seja aprovada, enquanto seus 200 operários ficarão sem emprego, assim como os demais 3.000 trabalhadores dessa indústria.