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Grupo rastreia baleias-azuis e grava mais de 26 mil cantos na Antártida

Rocío Otoya

Em Sydney

28/03/2013 10h56

Um grupo internacional de cientistas conseguiu captar mais de 26,5 mil cantos de baleia-azul na Antártida, em um estudo em que utilizaram, pela primeira vez, técnicas acústicas de detecção e acompanhamento deste grande cetáceo. 

O trabalho foi realizado por pesquisadores da Alemanha, da Argentina, da Austrália, do Brasil, do Chile, dos Estados Unidos, da França, da Noruega, do Reino Unido, da África do Sul e da Nova Zelândia, que participam do Projeto Baleia Azul na Antártida, dedicado ao maior animal do mundo.

Cerca de 18 especialistas em acústica e em etiquetagem de cetáceos, assim como engenheiros e observadores, partiram em janeiro de 2013 para uma viagem de sete semanas rumo ao Mar de Ross, com o objetivo de colocar dispositivos acústicos e estudar a população, a distribuição e o comportamento destas baleias.

Os resultados foram 626 horas de sons de baleias-azuis, registradas em tempo real e que incluem 26.545 cantos dos animais, explicou o chefe dos especialistas em sons marítimos, Brian Miller, da Divisão Australiana na Antártida. 

Segundo comunicado do cientista, a baleia-azul (Balaenoptera musculus) tem um som profundo e ressonante que é possível captar a centenas de quilômetros sob as águas. Através das técnicas usadas durante a travessia, os especialistas puderam gravar os sons e ver a posição das baleias a partir dos barulhos para que os barcos da pesquisa pudessem encontrá-las.

Na Antártida é muito raro ver uma baleia azul, mas a equipe colheu 57 fotografias de identificação e 23 biópsias. Os cientistas também etiquetaram dois exemplares com dispositivos via satélite - o que permitirá obter informações das baleias, como seus velozes movimentos longitudinais durante o verão austral e seus padrões alimentares no gelo antártico, indicou Virgínia Andrews-Goff, especialista em etiquetamento de cetáceos .

"Este método para estudar as baleias azuis antárticas foi tão bem-sucedido que se transformará, de agora em adiante, em um modelo para outros tipos de estudos no mundo todo", comentou o especialista no comunicado da Divisão Australiana na Antártida.

Desde a Austrália, foi destacado o uso destas técnicas não-letais de pesquisa de cetáceos, em alusão ao suposto programa científico que o Japão usa para caçar baleias em mares antárticos. Mas, segundo organizações conservacionistas, o programa esconde fins comerciais.

A baleia-azul pode chegar a medir mais de 30 metros de comprimento e pesar 180 toneladas, sua língua é mais pesada do que um elefante e o tamanho de seu coração é parecido com o de um carro pequeno. "Até o maior dinossauro é menor que uma baleia azul", destacou o ministro australiano do Meio Ambiente, Tony Burke.

Este cetáceo esteve a ponto de ser extinto no século 17, período no qual foram mortos cerca de 340 mil indivíduos.

Os dados e conclusões desta travessia serão compartilhados com a Comissão Internacional Baleeira para contribuir na conservação e na recuperação da população de baleias-azuis antárticas. A Comissão calculou, em 2000, que a população de baleias-azuis no hemisfério Sul ficava entre 400 e 1.400 exemplares.