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Costa Rica fecha zoológicos para 'proteger meio ambiente'

01/08/2013 14h31

Por que um país que diz proteger a natureza possui onças-pintadas e macacos atrás das grades? Essa é a pergunta que se fizeram as autoridades ambientais da Costa Rica.

E para resolver esse paradoxo, o país tomou uma decisão radical: não ter mais animais em cativeiro.

A Costa Rica, com apenas 4 milhões de habitantes e com uma das maiores concentrações de biodiversidade do mundo, decidiu fechar seus dois zoológicos estatais e transformá-los em jardins botânicos.

"Estamos enviando uma mensagem ao mundo. Queremos ser congruentes com nossa visão de país que protege a natureza", disse à BBC Mundo Ana Lorena Guevara, vice-ministra de Meio Ambiente da Costa Rica.

Guevara explica que, com a decisão, o governo pretende eliminar o conceito de animais enjaulados e criar novos espaços de parques naturais.

A vice-ministra diz que há uma grande quantidade de zoológicos privados no país com uma visão de resgate e preservação que continuarão funcionando. No entanto, os que pertencem ao Estado passarão por uma transformação total.

A decisão de fechar os zoológicos estatais foi tomada por um país conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação ambiental.

Em 1998, a Costa Rica promulgou a chamada Lei da Biodiversidade, uma extensa legislação de proteção ao meio ambiente, considerada pioneira no mundo.

Apesar de responder por apenas 0,03% do território da superfície da terra, o país reúne, segundo cientistas, 4% de toda a biodiversidade do planeta.

Fim das jaulas

A Costa Rica tem dois zoológicos estatais: o Parque Zoológico Simón Bolívar, em pleno centro da capital, e o Centro de Conservação, no subúrbio de Santa Ana, na província da capital San José.

Conhecido simplesmente como Simón Bolívar, o zoológico do centro de San José foi durante décadas um destino de lazer para gerações de costarriquenhos e turistas.

No entanto, a partir de 2014, os dois zoológicos deixarão de existir como são conhecidos. O Simón Bolívar será transformado em um jardim botânico e o Centro de Conservação, em um parque natural urbano.

Como parte da reforma, as jaulas serão eliminadas e os 400 animais serão transferidos para centros de resgate e zoológicos privados do país.

O novo jardim botânico terá um centro natural de exposição de orquídeas que atrairá aves locais. Além disso, os novos parques também funcionarão como centros de pesquisa científica.

Polêmica

"Esta decisão nos deixa preocupadíssimos", disse Yolanda Matamoros, diretora do Parque Zoológico Simón Bolívar, à BBC.

Matamoros, que é zoóloga e atua há 22 anos como diretora do zoológico, diz acreditar que há uma grande incerteza sobre o futuro dos animais do parque. "Nós nunca fomos à floresta caçar esses animais. Todos os animais que temos em nosso zoológico foram resgatados ou doados."

"O problema é que se os transferirmos aos centros de resgate, não sabemos se receberão cuidado adequado. Além disso, se os libertarmos, morrerão invariavelmente de fome pois não sabem caçar. São animais acostumados a viver em cativeiro", afirma.

Matamoros diz não compreender por que o Ministério do Meio Ambiente da Costa Rica (MINAE) tomou a decisão sem consultar os especialistas do parque. Até o momento, segundo ela disse, não recebeu uma notificação oficial de fechamento do zoológico.

Além disso, ela levanta suspeitas sobre a decisão de fechar o zoológico no momento em que aumenta o valor imobiliário do terreno onde ele se localiza, que fica no centro da capital.

Matamoros prevê ainda uma luta na Justiça sobre a permanência do zoológico já que a administração atual do parque está nas mãos de uma organização sem fins lucrativos, cujo contrato ainda está vigente.

Atualmente os dois zoológicos estatais da Costa Rica têm apenas duas espécies estrangeiras: um leão e alguns pavões-reais. O restante, 400 ao todo, são animais locais, entre os quais onças, macacos, tucanos, guaxinins, veados e antas.

As autoridades calculam que a cada ano os dois zoológicos estatais recebem, em média, cerca de 150 mil visitantes.

Guevara, vice-ministra do Meio Ambiente, rebateu as acusações de Matamoros e assegurou que a transferência dos animais seguirá protocolos internacionais.

Além disso, ela disse que o contrato de administração do zoológico, concedido nos últimos 20 anos a uma organização sem fins lucrativos, não será renovado.