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Operação Lava Jato

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Lula agradece a Fachin, mas diz que decisão veio com 5 anos de atraso

Arthur Stabile, Afonso Ferreira, Lucas Borges Teixeira, Nathan Lopes e Stella Borges

Do UOL, em São Paulo e São Bernardo do Campo (SP), e Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/03/2021 12h26Atualizada em 10/03/2021 13h58

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez hoje um agradecimento ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin pela decisão de anular suas sentenças em processos da Operação Lava Jato.

"Anteontem foi um dia gratificante. Sou agradecido ao ministro Fachin porque ele cumpriu uma coisa que a gente reivindicava desde 2016. A decisão que ele tomou, tardiamente, cinco anos depois, ela foi colocada por nós desde 2016", disse Lula hoje em seu primeiro pronunciamento após a decisão, que o beneficia e o libera de novo para disputar eleições.

A decisão de Fachin não anula os processos contra Lula, que apenas mudaram de local. O ministro do STF encaminhou os processos para a Justiça Federal do Distrito Federal. De acordo com o ministro, a 13ª Vara Federal de Curitiba não era competente para julgar os processos do ex-presidente —que, agora, deverão ser julgados novamente.

A crítica de Lula ao ministro do STF é de que a tese de incompetência da 13ª Vara, então comandada pelo ex-juiz Sergio Moro, já era apresentada por seus defensores desde a primeira denúncia, no caso do tríplex, que foi apresentada em setembro de 2016. Além da Justiça Federal no Paraná, o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) e o STJ (Superior Tribunal de Justiça) não reconheceram a incompetência de Curitiba para julgar os processos de Lula.

Para Lula, Moro e força-tarefa da Operação Lava Jato —qualificada como "quadrilha" pelo ex-presidente—"entendiam que a única forma de me pegar era me levar para a Lava Jato". O ex-presidente fez o pronunciamento em São Bernardo do Campo e não utilizava máscara, um dos itens essenciais para o combate à pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 260 mil pessoas no país.

"Eu estou muito tranquilo. O processo vai continuar, tudo bem. Já fui absolvido de todos os processos fora de Curitiba. Mas não só vamos continuar brigando para que o Moro seja considerado suspeito —porque ele não tem o direito de me transformar no maior mentiroso da história do Brasil e ser considerado herói por aqueles que queriam me culpar. Deus de barro não dura muito tempo."

"Vítima da maior mentira"

No pronunciamento, Lula também declarou achar que é "vítima da maior mentira" da Justiça do Brasil. "Sei de que fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história [do Brasil]", afirmou.

Segundo ele, a tensão de passar pelo processo de acusação por corrupção afetou sua família. "Sei que minha mulher Marisa morreu por conta da pressão e o AVC [Acidente Vascular Cerebral] se apressou", disse. Marisa Letícia morreu em 2017, antes da prisão do petista. Ele também falou sobre a morte do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, morto em 29 de janeiro de 2019. Ele foi impedido de comparecer ao enterro. "Eu fui proibido até de visitar meu irmão dentro de um caixão", lamentou.

Lula, no entanto, afirmou que a dor que sente "não é nada diante da dor de milhões de pessoas", se referindo à pandemia do novo coronavírus que atingiu o Brasil. "Não tem nada pior do que o cidadão saber que está desempregado e que no final do mês não vai ter um salário para sustentar sua família".

"Moro está sofrendo muito mais do que eu"

Em ataques a Moro, Lula disse que o ex-juiz da Lava Jato "está sofrendo muito mais do que eu sofri", disparou o presidente. "Eu tenho certeza."

Além de ver suas decisões anuladas pelo Supremo, Moro é alvo de análise pela 2ª Turma dos ministros sobre sua suspeição nas matérias envolvendo Lula, que está livre para disputar eleições por conta da decisão monocrática.

Lula disse que está "muito tranquilo" com os processos continuando, mesmo com a decisão de Fachin. "Já fui absolvido de todos os processos fora de Curitiba, mas nó vamos continuar brigando para que o Moro seja considerado suspeito", assegurou.

O petista citou um artigo que seria de Moro, publicado em 1994. Segundo Lula, o ex-juiz federal afirmou que "só a imprensa pode ajudar a condenar as pessoas". "E aí vale qualquer coisa", emendou Lula.

"Eles sabem que cometeram erros, e eu sabia que eu não tinha cometido erros", acrescentou, incluindo na fala o procurador do MPF (Ministério Público Federal) do Paraná, Deltan Dallagnol.

Em sua fala, o ex-presidente cobrou que as leis sejam cumpridas no transcorrer de processos. "Não podemos atacar as pessoas antes de ter prova, não podemos criminalizar antes de provar que cometeu um crime. A Laja Jato fez um pacto com parte da mídia", atacou o ex-presidente.

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