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Para se adaptar à nova paisagem, animal 'urbano' tem cérebro maior

Animais que vivem em ambientes muito modificados, como as grandes cidades, têm cérebros maiores do que os que vivem no habitat natural. A descoberta foi feita pela bióloga Emilie C. Snell-Rood, da Universidade de Minnesota (EUA), após comparar crânios de dez espécies que, hoje, são facilmente encontradas nas metrópoles, como esquilos, ratos, musaranhos e morcegos - Mike Hutchings/Reuters
Animais que vivem em ambientes muito modificados, como as grandes cidades, têm cérebros maiores do que os que vivem no habitat natural. A descoberta foi feita pela bióloga Emilie C. Snell-Rood, da Universidade de Minnesota (EUA), após comparar crânios de dez espécies que, hoje, são facilmente encontradas nas metrópoles, como esquilos, ratos, musaranhos e morcegos Imagem: Mike Hutchings/Reuters

Carl Zimmer

The New York Times

31/08/2013 06h00

Os biólogos evolutivos reconheceram que os seres humanos exercem uma enorme influência no processo evolutivo. Em um novo estudo, a bióloga Emilie C. Snell-Rood, da Universidade de Minnesota (EUA), apresenta evidências que sugerem que impulsionamos isso de uma forma mais surpreendente. Ao modificarmos os locais em que os animais vivem, estamos estimulando o desenvolvimento de cérebros maiores.

A conclusão da bióloga está fundamentada em uma coleção de crânios mantida pelo Museu Bell de História Natural, da Universidade de Minnesota. Ela selecionou dez espécies para o estudo, incluindo ratos, musaranhos, morcegos e esquilos. A pesquisadora selecionou dezenas de crânios distintos que foram coletados há menos de um século. A estudante de graduação Naomi Wick mediu as dimensões dos crânios, o que permitiu estimar o tamanho dos cérebros.

A pesquisa apresentou dois resultados importantes. Os cérebros de duas espécies de roedores que habitam cidades e subúrbios - o Peromyscus leucopus e o arganaz-dos-prados (Microtus pennsylvanicus) - eram 6% maiores que os desses mesmos animais coletados em fazendas e outras zonas rurais. O grupo concluiu que os cérebros dessas espécies ficaram significativamente maiores após seu deslocamento para cidades e povoados.

Além disso, Snell-Rood e Wick descobriram que duas espécies de musaranho e duas espécies de morcego, capturadas em zonas rurais, também apresentaram aumento dos cérebros.

Ela sugere que os cérebros dessas seis espécies ficaram maiores porque os seres humanos mudaram o local de forma radical. Nos locais em que antes havia florestas e pradarias virgens, hoje existem cidades e fazendas. Nesse meio alterado, os animais mais aptos ao aprendizado estão mais propensos a sobreviverem e deixarem descendentes.

Estudos realizados por outros cientistas associaram a facilidade de aprendizado com o aumento do cérebro. Pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, descreveram um experimento em que criaram peixes da espécie lebiste com cérebros maiores. Os peixes de cérebro maior se saíram melhor em testes de aprendizado que seus parentes de cérebro menor.

Os animais que constituem colônias em cidades e povoados têm que aprender a procurar por alimentos em edifícios e outros locais nos quais seus ancestrais não procuravam.

Mudanças na roça

"Também estamos modificando as populações rurais", afirma a pesquisadora. À medida que as árvores das florestas são cortadas para a madeira e as lavouras surgem em seu lugar, os morcegos têm que viajar para regiões mais distantes em busca de alimento. O cérebro grande talvez também tenha beneficiado os morcegos.

Cientistas que não estiveram envolvidos na pesquisa reconheceram que o estudo é o primeiro relato de mudanças significativas no tamanho do cérebro de animais que não ocorreram em laboratório. "Eu acredito que os resultados são empolgantes e merecem estudos adicionais de acompanhamento", afirmou Jason Munshi-South, biólogo evolutivo da Universidade Fordham.

Munshi-South e outros pesquisadores consideram que é necessário verificar as hipóteses de Snell-Rood de outros modos, e assim descartar explicações alternativas.

Por exemplo, caso as hipóteses da pesquisadora estejam corretas, a mesma tendência observada em Minnesota deve ser observada em crânios de coleções de museus de outras regiões bastante desenvolvidas do mundo.

Também deverá ser possível continuar a pesquisa em laboratório, por meio do cruzamento de mamíferos de áreas rurais de cérebro pequeno com seus parentes de cérebro grande. Por meio do exame de seus descendentes, os cientistas podem estudar os genes envolvidos na produção de cérebros de tamanhos diferentes. E, inclusive, realizar testes nos animais para verificar o grau de mudança de funcionamento de seus cérebros provocado pelo ambiente dominado pelos seres humanos.

Entretanto, um experimento completo de reprodução que verifique a hipótese de Emilie talvez seja possível apenas no cenário do filme Parque dos dinossauros. "Criar populações dos anos 1900 seria algo realmente incrível", afirmou ela, enquanto ria, "mas não podemos fazer isso de verdade".