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Pesquisa descobre 2 espécies de mosca branca consideradas extintas

José Tadeu Arantes

Da Agência Fapesp

08/03/2013 12h57

Pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista), do campus de Botucatu, no interior de São Paulo, constataram a existência de duas espécies da mosca branca, denominadas New World 1 e New World 2, possivelmente nativas do Estado de São Paulo.

A descoberta causou surpresa, pois acreditava-se que essas espécies haviam sido substituídas ou até mesmo extintas após a introdução do Biótipo B de mosca branca, conhecido como Middle East-Asia Minor 1 (MEAM1), que chegou ao país na década de 1990 e é altamente invasiva.

A mosca branca é um dos maiores pesadelos dos produtores de hortaliças, plantas ornamentais e outras culturas, pois, ao se alimentar da seiva da planta hospedeira, ela gera uma redução em seu vigor, além de induzir anomalias fisiológicas.

"Além de todos esses problemas, a mosca branca é transmissora de vírus, entre eles os begomovírus e crinivírus, que podem limitar o cultivo de hortaliças como o tomateiro", explica a professora Renate Krause Sakate, do departamento de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp.

"Ela também deposita sobre as folhas grande quantidade de secreção açucarada, favorecendo a formação de fungos que impedem a fotossíntese e, assim, afetam o crescimento da planta e reduzem sua produtividade", completa a autora da pesquisa publicada no Journal of Applied Entomology, de alto impacto na área.

No Brasil, as principais vítimas das moscas brancas são o tomate, o feijão, o melão e a batata. Além delas, também a soja, a abóbora, a melancia, hortaliças diversas e plantas ornamentais têm sido afetadas.

Espécies mais antigas

A pesquisa fez um levantamento em mais de 40 municípios do Estado de São Paulo e 13 de Alagoas, usando um teste altamente sensível e específico para identificar essas espécies mais antigas.

A espécie New World 1 foi encontrada nas regiões de Registro, Iguape e Ilha Comprida, todas no Estado de São Paulo, colonizando jiló e corda-de-viola. Em Alagoas, esta espécie foi, curiosamente, achada em plantas de tomateiro.

“É possível que a New World 1 seja a espécie que existia no Brasil antes da entrada do Biótipo B. Porém, como não há material preservado dessa época, isto ainda é uma suposição”, afirma Renate.

A New World 2 foi coletada em amendoim-bravo, uma planta daninha muito comum no campo e que é infectada por begomovírus. Trata-se do primeiro registro de sua existência no Brasil.

Um fato que surpreendeu foi ter localizado as duas espécies New World, que são supostamente mais antigas, em plantas colonizadas pela MEAM1, indicando a possibilidade de as várias espécies ocuparem o mesmo nicho ecológico.

As New World 1 e 2, no entanto, são mais frágeis e foram encontradas sempre em número reduzido. Além disso, o seu papel na transmissão de vírus, principalmente do begomovírus, ainda é desconhecido.

“Isolamos colônias da espécie New World 2, supostamente mais antiga, as infectamos com o begomovírus e estamos acompanhando, dia a dia, a reação das plantas hospedeiras, para saber se as espécies são ou não transmissoras”, diz Renate, que vai continuar a pesquisa com esse novo foco.

Mosca branca

Com o nome científico de Bemisia tabaci, a mosca branca mede de 1 a 2 milímetros. Os adultos têm o dorso amarelo pálido e asas brancas, que cobrem quase todo o corpo - daí a denominação que lhe foi atribuída.

Sob condições que lhe são favoráveis, com temperatura em torno de 28 graus Celsius e umidade relativa do ar de 70%, a espécie MEAM1 pode ter de 11 a 15 gerações por ano – cada fêmea colocando de 100 a 300 ovos durante o seu ciclo de vida.

Sua ação traiçoeira deve-se ao fato de a mosca branca ser capaz de transmitir mais de 200 espécies de vírus, grande parte deles com significativo impacto econômico na produção de hortaliças.

“Os begomovírus são os mais importantes limitadores da produção de tomate, além de sua incidência ter sido verificada também em culturas de pimentão e batata. Eles ocasionam redução do crescimento, alterações fisiológicas e produção de frutos isoporizados e com amadurecimento irregular”, diz Renate.