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Brasileira filma jiboia devorando macaco inteiro na Amazônia; assista

Em São Paulo

03/09/2013 06h00

Uma pesquisadora brasileira gravou, pela primeira vez, o ataque mortal e bem sucedido de uma jiboia a um bugio na Amazônia. O flagra inédito foi feito por Erika Patrícia Quintino, que está desenvolvendo o primeiro estudo sistemático sobre a ecologia e o comportamento da espécie bugio guariba-do-Purús (Alouatta puruensis) para seu mestrado em zoologia na PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

As descrições e as conclusões da gravação feita na manhã do dia 20 de fevereiro deste ano no sítio São José, em Rolim de Moura, cidade de Rondônia que tem fragmentos da floresta amazônica, foram publicadas na mais recente edição do periódico científico Primates.

Segundo a pesquisadora, uma fêmea adulta de aproximadamente quatro quilos escalou as partes mais altas de uma árvore, a 7,5 metros distante do chão, se afastando do bando composto por mais dois adultos (sendo um macho e uma fêmea), dois jovens e um filhote. A macaca foi surpreendida dez minutos depois por uma jiboia, que se enrosca no seu corpo e a mata em apenas cinco minutos por sufocamento - a cobra mantém o controle da vítima e esmaga o animal morto por mais 15 minutos.

Na hora do bote, a macaca chegou a emitir sons que chamaram a atenção dos outros bugios. A segunda fêmea do grupo levou três minutos para alcançar o topo da árvore e tentou impedir o ataque: ela bateu ao menos quatro vezes na jiboia e gritou bastante. Mas como o predador não reagiu, a macaca acabou se afastando e, a três metros de distância, assistiu à cena até o fim. Os outros bugios não esboçaram reação e ficaram no mesmo local, descansando em outra árvore da floresta, durante todo o tempo.

Cerca de quarenta minutos após o ataque inicial, a cobra passou a se segurar nos galhos pelo galho e devorou a macaca, iniciando pela cabeça. Segundo Érika, o processo de ingestão do primata durou exatos 76 minutos - ao fim, a cobra voltou a sua posição inicial e ficou sem se mexer no galho, escondida entre as folhas, por três dias.

Evento raro

Documentar um ataque de cobras é considerado difícil pelos cientistas devido à rara frequência com que ocorre, ainda mais tratando de uma presa de grande porte. O material inédito, porém, mostra que os primatas podem ser vítimas das cobras.

Jiboias são conhecidas pela paciência na espera de uma presa, podendo ficar paradas no mesmo ponto de uma floresta por até um mês aguardando o momento certo para atacar. Sua dieta é basicamente composta por pequenos roedores e pássaros, mas o ataque filmado na Amazônia no começo do ano dá aos zoólogos uma nova percepção sobre esse réptil.

Segundo o coordenador do estudo, o professor da Faculdade de Biociências da PUC-RS Júlio César Bicca-Marques, a descoberta  sugere que "cobras podem desempenhar um papel predatório maior do que se pensava em relação aos macacos do Novo Mundo".

O artigo da dupla destaca, ainda, que o bugio é uma espécie que costuma viver em bando, o que aumenta a capacidade de defesa do grupo, e tem excelente visão para detectar possíveis ameaças. O ataque registrado, portanto, também aponta uma vulnerabilidade de primatas na natureza.