A volta por cima de Angela Merkel
Nesta quarta (12), o site do The New York Times teve durante algumas horas um subtítulo "A Europa em turbulência". Abaixo da chamada vinham notícias sobre o atentado terrorista em Estrasburgo, os problemas de Macron frente ao movimento dos "coletes amarelos" e a crise cada vez mais insolúvel do Brexit.
Um outro tópico relativo à Europa, e em particular à Alemanha, que também parecia crítico nos últimos dias, acabou se resolvendo no sábado (7): a sucessão de Angela Merkel na direção de seu partido a União Democrata-Cristã (CDU) e, provavelmente, a médio prazo, na direção do governo alemão.
A nova líder do CDU, Annegret Kramp-Karrembauer (conhecida como AKK na imprensa europeia) que venceu dois outros candidatos representando setores mais direitistas da CDU, é próxima da atual chefe do governo e garantirá a continuidade da linha moderada que tem caracterizado o partido sob a direção, desde 2000, de Angela Merkel. Ao contrário do que ocorreu outros países europeus, a direita alemã tomou distância do populismo e do extremismo xenófobo.
Fazendo assim sua sucessora, Merkel demonstrou que mantém sua liderança, na CDU, na Alemanha e na Europa. De fato, com o Reino Unido mergulhado no caos parlamentar e decisório em razão do impasse sobre o Brexit, e a França abalada pelo movimento insurrecional dos "coletes amarelos', Berlim aparece de novo com um polo de estabilidade entre os grandes e pequenos países da União Europeia (UE).
Sobre a questão do Brexit, Merkel reforçou a posição do presidente Macron e dos outros dirigentes europeus, frente à tentativa de Theresa May de obter novas concessões para a saída do Reino Unido da UE. Numa intervenção no Parlamento alemão, ela declarou: "Não temos nenhuma intenção de mudar o acordo do Brexit. Esta é a posição comum dos 27 países membros (da UE)".
Com relação às tensões com a Rússia, depois do bloqueio de três navios de guerra ucranianos pela marinha russa no estreito de Kerch, cujos águas territoriais são disputadas pelos dois países, a chefe do governo alemão anunciou que apoiará a ampliação das sanções europeias contra o governo de Vladimir Putin. Da mesma forma, na sequência do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado da Arábia Saudita em Istambul, o governo alemão, indo mais longe que outros países europeus e que os Estados Unidos, decidiu suspender todas as vendas de armas aos sauditas.
Enfim, Angela Merkel teve um papel chave na conclusão do Pacto Mundial sobre Migrações organizado pela ONU e assinado no último domingo (8) em Marrakesh por cerca de 150 países. Afirmando que as migrações favorecem o progresso das nações, a chefe do governo alemão criticou as informações falsas sobre os imigrantes e a imigração "difundida por aqueles que se opõem ao Pacto".
Desde de janeiro de 2015, começo da crise migratória na sequência da guerra civil na Síria, mais de 1,3 milhão de imigrantes pediram o estatuto de refugiado na Alemanha. Perto de 800 mil já receberam este estatuto, que os impede de serem expulsos e lhes concede uma série de direitos civis no seu novo país. Em 2016, o número de estrangeiros na Alemanha correspondia a 12,5% da população. A título de comparação, no Brasil os estrangeiros correspondem a 0,9% da população.
Note-se que depois de acolher um milhão de imigrantes em seu território, a mais alta cifra registrada nos países da UE, Angela Merkel foi duramente criticada pelo seu próprio eleitorado e sobretudo pela extrema-direita. Saindo enfraquecida das eleições parlamentares de setembro do ano passado e das eleições regionais realizadas em seguida, Angela Merkel não hesitou a reafirmar que a imigração "traz prosperidade."
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