Brexit: o começo do fim
"Brexit, o mais tedioso assunto importante do mundo", tal era o título do artigo que Martha Gill, jornalista residente em Londres, escreveu no New York Times no passado mês de dezembro. De fato, em Londres e sobretudo no resto do mundo, ninguém tem mais paciência com as querelas do Brexit, que, no entanto, são cruciais para o Reino Unido (RU) e a União Europeia (UE).
Mas agora há novos motivos para retomar o tema. Ocorre que a proximidade da saída efetiva do Reino Unido da União Europeia, marcada para o próximo dia 29 de março, acirra os conflitos.
Ontem, a bancada trabalhista no Parlamento foi sacudida com o anúncio da saída de sete de seus deputados. O número é pouco importante, frente aos 262 parlamentares do partido. Mas o fato é bastante raro nos anais do Parlamento britânico. Além do descontentamento com a atitude de Jeremy Corbin frente ao antissemitismo, os dissidentes acusam a liderança partidária de favorecer o Brexit. Outros deputados trabalhistas podem deixar o partido pelo mesmo motivo.
Depois do racha na bancada trabalhista, os analistas chamam a atenção para as tensões internas que também existem no partido conservador. Segundo o jornal londrino pró-europeu The Independent, há também um grupo de parlamentares conservadores que pensam deixar seu partido para protestar contra a maneira pela qual o governo vem conduzindo o Brexit.
Desde o dia 15 dezembro, quando o plano de Theresa May para a saída do Reino Unido foi largamente derrotado no Parlamento, o governo inglês parece ter perdido o rumo. Projetos de lei decisivos para a implantação do Brexit, concernentes à agricultura, pesca, serviços financeiros, saúde pública, imigração e comércio, não foram votados pelos deputados.
Milhares de funcionários públicos foram deslocados de suas funções para preparar o Brexit e, na pior hipótese, o "hard Brexit', a ruptura radical entre o Reino Unido e a União Europeia no dia 29 de março.
Em áreas mais sensíveis, como a da saúde, a situação é mais crítica. Dois terços dos remédios e a metade do equipamento médio do Reino Unido são importados da União Europeia. No caso da insulina, totalmente importada da União Europeia e de outros países, a inquietação é grande entre os diabéticos e suas famílias.
O correspondente londrino do Le Monde faz uma síntese das turbulências causadas no Reino Unido pelo Brexit e conclui: os problemas estão sendo sobre-estimados no curto prazo e subestimados no longo prazo. Isto porque o Reino Unido e a União Europeia tomaram uma série de medidas para amenizar os efeitos da ruptura, mesmo no caso de um "hard Brexit".
Assim, as ligações aéreas entre as Ilhas Britânicas e o continente continuarão depois da meia-noite do dia 29 de março, ao contrário do que se disse e escreveu até pouco tempo atrás. Da mesma forma, a União Europeia continuará reconhecendo provisoriamente Sistemas e Câmaras de Liquidação e Compensação (Clearing Houses) do Reino Unido, evitando uma ruptura dos fluxos financeiros eurobritânicos. Mesmo assim, haverá, no médio e no longo prazo, perdas importantes para as finanças e a economia britânica.
O cálculo do impacto econômico do Brexit variou ao longo dos dois últimos anos. A última avaliação, publicada um mês atrás no Financial Times, estabelece os seguintes pontos. Na pior hipótese, no "hard Brexit", atividade econômica cairá lentamente em 2019 e 2020. Porém, passados 15 anos, a economia ficará 9,1% menor do que estaria se continuasse na União Europeia.
Caso haja um acordo intermediário, similar ao que liga a União Europeia ao Canadá, a economia encolherá 6,3% em 2034, numa situação pouco melhor que a do "hard Brexit". Enfim, se houver uma simples união alfandegaria entre as duas partes, a contração da economia do Reino Unido encolherá apenas 2,2% no final de 15 anos. No meio tempo, o Brexit continuará revelando as fraturas da sociedade e das instituições britânicas.
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