A ciberguerra e os conflitos armados
No dia 4 de maio passado, a força aérea israelense destruiu um prédio da faixa de Gaza. O incidente parece banal mas, segundo fontes militares israelenses, o bombardeio visou uma instalação de ciberataque do Hamas, movimento palestino que controla a região.
Num primeiro momento, a ciberdefesa de Israel travou o assalto informático. Em seguida, a aviação decolou para lançar bombas contra o prédio. Para os especialistas, o ataque aéreo marcará data.
Habitualmente, os ataques da guerra cibernética geram contra-ataques similares, o "hack back", em que o agressor é a seu turno hackeado pela ciberdefesa do agredido.
A Rússia já havia procedido a um ciberataque no momento em suas forças armadas invadiram a Ucrânia para anexar a Criméia (fevereiro-março de 2014). Mas se tratava de um ataque no quadro de uma ofensiva militar convencional das forças especiais russas.
Noutras circunstancias, os Estados Unidos lançaram em 2015 um foguete de um drone para matar, na Síria, Junaid Hussain, chefe dos hackers do Estado Islâmico. Caso também distinto do ataque israelense, na medida em que se visou apenas um combatente e não as instalações informáticas ou militares.
Assim, o ataque de 4 de maio contra o Hamas constituiu um novo patamar na guerra moderna: pela primeira vez na história militar um ataque informático dá lugar a um contra-ataque aéreo com bombas e balas.
Concretamente, Israel respondia a uma mensagem introduzida por um hacker, supostamente pertencente ao Hamas, na retransmissão televisiva da final do concurso de canções da Eurovision. Ostentando a insígnia das FFAA israelenses, a mensagem falsa dizia que Israel estava sob um ataque de mísseis e aconselhava os telespectadores a procurar um abrigo.
Entrevistado por ZDNet, site americano do conglomerado de mídia CBS, Lukasz Olejnik, especialista em cibersegurança, observou que o ataque informático já havia sido neutralizado quando houve o bombardeio das instalações.
Reconhecendo que o conflito na faixa de Gaza é contínuo, ele alertou que noutro contexto ou noutra região, uma resposta militar física a um ataque cibernético poderá iniciar um conflito bélico de grandes proporções.
No canal franco-alemão ARTE, o jornalista Boris Razon apresentou uma investigação sobre a ciberguerra, chamando a atenção para outra situação arriscada.
Sabe-se que os ataques cibernéticos perpetrados por quadrilhas organizadas e serviços oficiais de alguns países, são raramente reivindicados por seus autores e difíceis de rastrear.
Mais ainda, os subterfúgios utilizados nesses ataques incluem o uso de "falsas bandeiras", a piratagem de instalações de um país para lançar um ataque a outro país. Ou seja, um país pode ser injustamente acusado, ou atacado, por causa de um ataque lançado por terceiros.
No quadro atual, há uma hierarquia entre os usuais suspeitos. Russos e o governo russo são frequentemente acusados de organizarem espionagem cibernética militar e infiltração política em outros países, incluindo fake news, manipulação de sondagens eleitorais etc.
Os chineses são mais especializados na espionagem econômica, enquanto os Estados Unidos, dispondo de meios quase ilimitados podem agir em qualquer domínio.
Porém, os Estados Unidos dispõem de salvaguardas democráticas (imprensa livre, divisão de poderes) inexistentes ou quase inexistentes nos dois primeiros países citados acima.
Há também o caso dos pequenos países -, Israel, Coréia do Norte, Irã -, bastante ativos na guerra cibernética. No último dia 5, a agência Reuters divulgou um relatório confidencial da ONU informando que a Coreia do Norte, numa série de ciberataques, roubou cripto moedas no valor de US$ 2 bilhões de 17 países.
Tal soma, coletada por ciberpiratas governamentais norte-coreanos, serviu para consolidar e ampliar o programa de armas e foguetes nucleares de Pyongyang. Qual é o montante que fará um roubo desses ser considerado "casus belli", um ato de guerra, contra outro país? Três bilhões, trinta bilhões de dólares?
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