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Com autoridades na mira, fronteira paraguaia tem 1 morte a cada 3 dias

Mortes no Paraguai - Arte/ UOL
Mortes no Paraguai Imagem: Arte/ UOL

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

20/10/2021 04h00

A fronteira entre Brasil e Paraguai registra uma série de assassinatos atribuídos à guerra envolvendo o controle do crime organizado na região. Levantamento feito pelo UOL constatou ao menos 28 mortes com características compatíveis com crimes cometidos pelo narcotráfico nos últimos três meses —média de um homicídio a cada três dias.

Os casos foram registrados em quatro municípios dos dois países, em pontos estratégicos para o comércio internacional de entorpecentes: a fronteira entre Pedro Juan Caballero com a brasileira Ponta Porã (MS) e a entre a paraguaia Capitán Bado e Coronel Sapucaia (MS).

Atentados com mais de uma vítima - Arte/ UOL - Arte/ UOL
Imagem: Arte/ UOL

Nesse período, houve ao menos seis atentados com mais de uma vítima. Entre os ataques, a chacina que deixou quatro pessoas mortas ao serem atingidas por mais de 100 disparos de fuzil no dia 9 deste mês na saída de uma casa noturna em Pedro Juan Caballero.

Forças de segurança dos dois países costuram uma força-tarefa para garantir a legalidade na troca de informações. E, assim, facilitar as ações no combate ao narcotráfico na região.

A maior dificuldade é para que se estabeleçam acordos entre os dois países para uma maior integração. Fazemos operações, mas apenas no lado brasileiro. Muitas vezes, um criminoso pratica o delito em um país e foge para o outro"
Tenente-coronel Ozevaldo Santos de Melo, comandante do batalhão da Polícia Militar de Ponta Porã (MS)

Marcelino Nunes de Oliveira, secretário municipal de Segurança Pública de Ponta Porã (MS), vê ligação entre os crimes nos dois países.

"Um crime que acontece no lado brasileiro tem efeito colateral no outro lado da fronteira porque os envolvidos migram para o país vizinho. E, às vezes, esse tipo de movimentação já atrapalha uma investigação. A busca por elucidação dos crimes exige empenho e colaboração entre as forças policiais", argumenta.

Fronteira entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã. Cena do documentário "A fronteira" - Reprodução MOV - Reprodução MOV
Criminosos cruzam a fronteira entre a paraguaia Pedro Juan Caballero e a brasileira Ponta Porã (MS) para despistar a polícia
Imagem: Reprodução MOV

O primeiro massacre no levantamento feito pelo UOL com base no acirramento recente envolvendo o narcotráfico ocorreu em 26 de julho, quando um casal foi atingido por mais de 30 disparos em uma choperia na cidade paraguaia. Apenas seis dias depois, dois irmãos foram mortos em um atentado com as mesmas características.

O último ataque com mais de uma vítima foi registrado no dia 13 deste mês, quando homens armados dispararam contra um grupo de pessoas na cidade paraguaia Capitán Bado. Um homem morreu e outros dois ficaram feridos. Segundo a polícia paraguaia, o alvo do atentado era o vereador Ismael Valiente, que sobreviveu.

Autoridades na mira do crime - Arte/ UOL - Arte/ UOL
Imagem: Arte/ UOL

Criminosos usaram uniforme policial para matar

A tentativa de assassinato de Valiente não é um caso isolado de ataques contra autoridades na região. Segundo levantamento do UOL, três políticos e um policial foram assassinados na fronteira nos últimos três meses em crimes atribuídos a matadores supostamente ligados a organizações criminosas locais ou ao PCC (Primeiro Comando da Capital).

Um dos episódios de maior repercussão envolveu o assassinato do ex-deputado Carlos Rubens Sanchez Garcete, o Chicharõ, fuzilado dentro da própria casa em Pedro Juan Caballero no dia 7 de agosto. Criminosos com uniformes e emblemas da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) se identificaram como agentes em operação contra o tráfico para conseguirem entrar no imóvel.

O episódio mais recente ocorreu no dia 12 deste mês, quando o policial paraguaio Hugo Ronaldo Acosta foi assassinado a tiros em Pedro Juan Caballero. Próximo ao corpo, os autores do crime deixaram um bilhete, que dizia: "Para de oprimir a população lá dentro porque vamos pegar vocês como pegamos anteriormente os companheiros seus".

PCC busca hegemonia, dizem especialistas

"Há uma intensificação dos conflitos porque o PCC tem uma pretensão de hegemonia. Surgem novas ondas de violência na região porque não há o controle de um grupo criminal", analisa a pesquisadora Camila Nunes Dias, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e à frente de estudos na região há sete anos.

"O que existe ali é o PCC querendo dominar completamente o território, eliminando qualquer grupo adversário que se manifeste contra a ação deles na fronteira", complementa o juiz federal aposentado Odilon Oliveira, especializado no crime organizado na fronteira.

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